Não é só o Armazém Cultural: ausência de consulta à comunidade impactada pelas ações da prefeitura de Campo Grande é regra da atual gestão
O projeto da prefeitura de Campo Grande para dar outra utilidade ao Armazém Cultural, localizado na Esplanada Ferroviária, tombado pelo patrimônio histórico, caiu como uma bomba no meio cultural da capital de Mato Grosso do Sul.
De espaço para eventos culturais o local, pelo projeto do executivo municipal, será destinado para implantação do Parque Tecnológico e de Inovação de Campo Grande – Estação Digital, deixando de ser um espaço cultural para uso da comunidade.
Sem um debate com os principais interessados: o setor cultural e a comunidade, o projeto gerou uma reação e o debate será levado para uma audiência pública na Câmara de Vereadores que será convocada pela Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Campo Grande. A provável data é o dia 13 de junho.
Mas não é apenas esse projeto que está sendo executado sem um debate amplo. Muitas outras mudanças e alterações de destinação de espaços públicos já vêm sendo feitas há muito tempo. De doação de terrenos da prefeitura para empresas privadas, venda de áreas públicas e mudanças de destinação de áreas públicas nos bairros destinadas a uso público (como para praças), vem sendo feitas sem o debate necessário.
O fato é que muitos desses projetos têm sido aprovados pelos vereadores, em acordo com a prefeitura, sem que a comunidade esteja ciente de seus impactos ou dos prejuízos para o município, como no caso de doações de terrenos para empresas privadas. O interessante nesses casos é que os mesmos que clamam pela “iniciativa privada” e fim de “subsídios e interferência do Estado no mercado”, são os que aprovam as benesses, com dinheiro e bens públicos, para empresas privadas.
Armazém Cultural
O Armazém Cultural é um espaço para eventos localizado ao lado da Feira Central de Campo Grande. Com a finalidade de armazenar produtos que eram transportados pela via férrea, o Armazém foi construído em 1938. Reinaugurado em 15 de setembro de 2004, depois de ampla reforma, com a denominação de Armazém Cultural, o imóvel faz parte do complexo arquitetônico da Esplanada da Ferrovia de Campo Grande.
Com dimensões de 11,5m. x 125,90, o Armazém Cultural possui pouco mais de 1.440m2 de área livre, totalizando cerca de 1.520m2 de área construída. O Salão não possui forro, deixando aparentes as tesouras de madeira, as telhas e um duto circular do ar condicionado.
De acordo com a lei nº 4.357, de 27 de dezembro de 2005, sua denominação passa a ser Armazém Cultural Helena Meireles.
A Plataforma Cultural dispõe de um atelier para oficinas e workshops; uma galeria climatizada destina a exposições, chamada Galeria de Vidro, amplo espaço coberto e arejado, diante do qual ainda há o pátio a céu aberto.
O projeto para o Armazém Cultural
O projeto do executivo municipal pretende revitalizar a região da Esplanada Ferroviária, além da Feira Central, Avenida Calógeras e a Rotunda, transformando-as em um grande espaço de empreendedorismo, inovação e cultura. Com orçamento estimado em R$ 90 milhões para a execução, o projeto foi elaborado inspirado no Porto Digital, de Recife (PE).
De acordo com o professor Roberto de Figueiredo, do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico – CMPPH, a grande preocupação da classe diz respeito à Esplanada Ferroviária, que agrega o Armazém Cultural, a Plataforma Cultural e a Galeria de Vidro, o único espaço que a classe artística tem atualmente para realizar eventos, apresentações e exposições na cidade. “Não somos contra o projeto, mas somos contra ficarmos sem o nosso único espaço. O projeto já chegou pronto, nem nos consultaram, e nós temos o direito de participar desse debate”, defendeu.
Para Anderson Bosh, membro do Conselho Municipal de Cultura e coordenador do colegiado de literatura, moda e artes visuais de MS, o poder público precisa dar conta dos demais espaços da cidade que estão indisponíveis. “O Armazém Cultural é hoje o nosso único espaço porque todos os outros foram abandonados ou estão em obras que nunca terminam. Se deixarmos o projeto tomar conta, nunca mais recuperaremos”, desabafou.
A vereadora Camila Jara (PT) também ressaltou os espaços da cidade que estão abandonados e afirmou que o projeto será debatido até que o resultado final seja satisfatório para todos. “Realmente nós temos o Teatro Aracy Balabanian em reforma há anos, o Horto Florestal que foi abandonado, o Teatro do Paço, que está sendo usado para outros fins. Isso sem falar do Centro de Belas Artes. Precisamos mesmo cobrar o executivo. Mas o projeto da Estação Digital continuará a ser discutido e será alterado para contemplar as novas necessidades e incorporar as sugestões da classe artística”, afirmou.
(com informações do site da Câmara de Vereadores e da prefeitura de Campo Grande)
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