Hospital Municipal em Campo Grande: audiência debate construção mas modelo “público-privado” não é esclarecido
Anunciada na última semana pela Prefeitura, a construção do Complexo Hospitalar Municipal foi tema debate, nesta segunda-feira (18), em audiência na Câmara Municipal de Campo Grande.
Diversas instituições estiveram presentes no debate, porém como funciona o modelo “público-privado” anunciado pela prefeita não foi explicado. A origem dos recursos também não foi esclarecida. O setor privado vai entrar com parte dos recursos necessários, orçado em R$ 250 milhões? A prefeitura tem recursos próprios para tal? Virão investimentos dos governos federal e estadual? A “iniciativa privada vai participar da gestão do Hospital Municipal? Que setor privado da saúde é esse que estará na “parceria público-privada?
“Campo Grande é uma das poucas capitais do Brasil que não tem hospital público municipal. Quem nos ouve precisa saber que a Prefeitura não possui nenhum leito hospitalar próprio. Toda internação, toda cirurgia e toda necessidade, Campo Grande tem que comprar leitos hospitalares da rede privada, filantrópica, ou até mesmo do Regional e do Universitário”, apontou a vereadora Luiza Ribeiro.
Campo Grande tem 940 mil habitantes. Segundo a vereadora, os últimos levantamentos mostram que a oferta de leitos hospitalares na Capital é 1,6 leitos por mil habitantes, e o recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de 3 a 5 leitos para cada mil habitantes. “Sempre estamos na dependência de outras instituições para atender os campo-grandenses”, completou.
Já o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Ricardo Bueno, questionou os prazos apresentados pela Prefeitura. “Anunciar com um ano é um pouco de irresponsabilidade. Tem que ter coragem de se falar isso. Qualquer licitação para se fazer esse projeto, vai durar seis meses. Fazer um hospital e, em um ano, colocar para funcionar, não vai funcionar. Já que foi anunciado, os vereadores tem toda sessão para cobrar. Já que foi anunciado, vamos cobrar”, garantiu.
“É uma luta antiga de toda a sociedade campo-grandense, e não se vê um debate a respeito. Na pandemia, Campo Grande comprou diversos leitos de hospitais particulares. Esses leitos poderiam estar servindo, hoje, o Hospital Público Municipal. Nas UPAs, vemos pessoas internadas há 10, 20 dias e implorando para arrumar uma vaga em um hospital”, cobrou o vereador Júnior Coringa.
Em sua fala, o vereador Ademir Santana questionou os gastos públicos com a saúde. “Em 2017, iniciei essa luta da construção do Hospital Municipal. Hoje, o município gasta 30% com a saúde. E nossa saúde é boa? Não é. É péssima. Hoje, compramos leitos. Tivemos 45 dias de lançamento de obras e ficamos felizes com o anúncio da construção do Hospital Municipal. Nossa luta está valendo a pena. Não estamos só para criticar, mas para ajudar a Prefeitura”, disse.
A implementação da nova unidade, segundo a Prefeitura, será fruto de uma Parceria-Público-Privada e o investimento previsto é de R$ 200 milhões. O objetivo é ampliar a oferta de serviços e absorver parte da demanda reprimida por exames de diagnóstico e cirurgia, tendo a capacidade de atender uma média de 1,5 mil pessoas. Todos os atendimentos serão regulados.
“É um tema muito importante. A Câmara tem que fazer esse debate. Mesmo que a prefeita tenha anunciado, o mais importante é fazer essa discussão, explicar e cobrar da prefeitura os documentos que comprovem a veracidade. Uma obra dessa demora. Não precisamos de lançamento. Tem que fazer. Temos que correr atrás para ver se realmente acontece. A Câmara é a casa do debate. Aqui nasce as decisões que envolvem a sociedade”, apontou o vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão, presidente da Câmara.
Segundo a prefeita, até o momento, três locais estão sendo avaliados para a construção do complexo. A expectativa é de que as obras sejam iniciadas ainda este ano com previsão de entrega de 12 meses.
“Temos que pensar Campo Grande para o presente e para o futuro. Um Hospital Municipal não é um levantar paredes. Existe uma engenharia específica. É uma estrutura extremamente complexa. Não falamos apenas de estrutura física, mas também de pessoas. São dois mil novos servidores. Isso é concurso público e não pode ser processo seletivo. Precisamos pensar em local, estrutura adequada e planejamento”, ponderou o vereador Prof. André Luís.
Em sua fala, o vereador Ronilço Guerreiro garantiu que a Casa de Leis vai acompanhar o desenrolar do projeto. “Todos os vereadores são a favor da implementação do Hospital Municipal em Campo Grande. Precisamos investir no que a população mais precisa. Neste momento, precisamos trabalhar com uma comissão. Sou a favor, mas, sou a favor principalmente de fazer um trabalho conjunto. Trabalhar em parcerias para que Campo Grande ganhe”, afirmou.
A nova unidade deve contar com uma área total de 15 mil metros quadrados, sendo 10 mil metros quadrados de área construída, que irão abrigar toda a estrutura de atendimento. O complexo deverá contar também com um heliponto para receber vítimas com necessidade de atendimento imediato.
“É uma necessidade urgente para desafogar a fila. Hoje, vamos num posto de saúde e não tem uma dipirona. A fila de consultas é imensa, parece que anda pra trás. Vamos de ver onde vem o recurso, como será feito. E minha preocupação é que não seja mais uma obra parada”, analisou o vereador Zé da Farmácia.
Já o superintendente do Ministério da Saúde em Mato Grosso do Sul, Ronaldo Costa, afirmou que os municípios devem garantir o acesso à saúde. “Se a cidade quer ser grande, tem que ter a grandeza de assumir o que a população precisa. Os municípios, estados e União tem que assumir a garantia da oferta à saúde. Esse complexo tem que ter leito, ressonância, laboratórios, lavanderia, estrutura de engenharia clínica, todos os serviços necessários para minimizar os gastos de serviços privados e atender as pessoas que mais precisam”, afirmou.
A promotora da 32ª Promotoria de Justiça da Saúde Pública, Daniela Costa da Silva, lembrou que a falta de leitos é um problema antigo na Capital. “O MPE sabe dessa necessidade de leitos em Campo Grande. Essa necessidade não é algo atual, e essa discussão já tem sido feita há bastante tempo. É importante que a Câmara traga essa discussão para a população. É uma discussão ampla que tem que começar nessa Casa e ser repassada para os gestores”, disse.
O vereador Dr. Victor Rocha apoia a construção do complexo, mas também fez ressalvas. “Há um planejamento orçamentário. Como vamos fazer algo e falar que vai entregar em um ano? Infelizmente, não dá para acreditar. Temos uma responsabilidade com a população de Campo Grande. Nossa população está nas filas de consultas, exames e cirurgias. Ela bate na farmácia e não encontra remédio”, cobrou.
(Com informações de Jeozadaque Garcia/Assessoria de Imprensa da Câmara – Foto: Izaías Medeiros)
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