Proposta de supermercados de pagar por hora é exploração, diz presidente da Contracs

Proposta de supermercados de pagar por hora é exploração, diz presidente da Contracs

Setor tem 357 mil vagas abertas e quer atrair jovens para trabalhar por hora. Para o presidente da Contracs, se setor diminuísse a jornada e aumentasse os salários a falta de interessados seria resolvida

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), propôs ofertar vagas de emprego para jovens com pagamentos por hora, o chamado trabalho intermitente, que não tem salário fixo e, cujo valor varia pelo número de horas trabalhadas. Nesse regime o empregado é convocado pelo empregador para prestar serviços de forma esporádica, sendo remunerado por horas ou dias trabalhados. O contrato prevê períodos alternados de atividade e inatividade, durante os quais o trabalhador pode buscar outros empregadores.

Segundo a Agência Brasil, num evento do setor realizado na semana passada, em São Paulo, o presidente da Abras, João Galassi, disse que o pagamento da jornada por hora traz mais liberdade de escolha ao trabalhador.

“O que é melhor? Seis por um, quatro por três, cinco por dois? Nenhuma dessas alternativas. O que é melhor para os nossos colaboradores é a liberdade de poder escolher sua jornada de trabalho. Isso só será possível se tiver a liberdade de ser contratado por hora”, opinou. Em todo o Brasil, segundo o presidente da Abras, há cerca de 357 mil vagas em aberto, mas há muita dificuldade em atrair interessados.

No entanto, esses empresários não fazem nenhuma autocrítica sobre os salários que pagam. A grande maioria paga pouco mais de um salário mínimo por mês, numa escala 6×1, inclusive com trabalho aos domingos e feriados. Pagar melhor e reduzir a jornada eles não querem.

Um dado que demonstra o quanto o trabalho intermitente é precário foi o levantamento, no ano passado, feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese): 76% dos vínculos intermitentes de trabalho em 2023 tiveram remuneração mensal inferior ao salário mínimo ou não tiveram remuneração. Apenas um quarto (24%) dos vínculos intermitentes ativos em dezembro de 2023 registrou remuneração média de pelo menos um salário mínimo. Somente 6% receberam, em média, dois salários mínimos ou mais. De acordo com os dados, a remuneração mensal média dos intermitentes foi de R$ 762, ou 58% do salário mínimo (R$ 1.320 em 2023). Entre mulheres e jovens, a remuneração mensal média foi ainda mais baixa, de R$ 661.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs), Julimar Roberto de Oliveira Nonato, critica a proposta da Abras. Para ele, precarizar a relação de trabalho fará com que seja ainda mais difícil de se conseguir pessoas para trabalhar.

“As pessoas não querem trabalhar nos finais de semana e feriados, estão cansadas de serem exploradas. Os jovens, principalmente, preferem empregos em outras áreas como, por exemplo, na indústria e, às vezes, até com um salário menor, mas elas têm folgas aos finais de semana e feriados”, diz.

“Na nossa visão o ideal é uma jornada de 36 horas semanais com quatro turnos de seis horas e com uma escala que não seja a seis por um, de preferência a quatro por três, que defendemos e, é claro melhores salários”, complementa.

Segundo Julimar, o setor supermercadista, desde a pandemia, é o que mais lucrou, e é o que mais explora. Seus lucros são exorbitantes.

Uma prova de que o setor de supermercados é um dos que mais são lucrativos são os dados do “Ranking da Abras de 2025”, elaborado em parceria com a NielsenIQ, que mostram que as redes de supermercados no Brasil faturaram R$ 1,067 trilhão em 2024, o equivalente a 9,12% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O número de lojas cresceu 2,3% em 2024 ante 2023, passando de 414.663 para 424.120 unidades.

(Fonte: CUT/Escrito por: Rosely Rocha – Foto: Marcelo Camargo-Agência Brasil)

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