Ato contra liberação da cana no Pantanal acontece nesta terça, 12, em Campo Grande (MS)
Um ato contra a revogação do decreto que proibia o plantio de cana-de-açúcar no Pantanal acontece nesta terça-feira, 12 de novembro, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, estado que concentra cerca de dois terços do Pantanal no Brasil (o Pantanal está distribuído também no estado de Mato Grosso, no Paraguai e Bolívia). O ato acontece na rua Barão do Rio Branco, esquina com a rua 14 de Julho, no centro da cidade, a partir das 9:30 horas.
No dia 5 de novembro foi publicado no Diário Oficial da União o decreto do presidente da República revogando o Decreto nº 6.961/2009, que estabelecia o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar (ZAE Cana). A medida era anunciada pela ministra Tereza Cristina da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desde março de 2019. Vale lembrar que Tereza é a responsável direta pela liberação de 382 novos agrotóxicos até outubro deste ano.
O ZAE limitava a expansão da cana de açúcar na Amazônia e no Pantanal e sua elaboração foi resultado de intenso trabalho desenvolvido por pesquisadores, organizações não governamentais, a Rede Pantanal e o Ministério do Meio Ambiente. Na verdade, foi o desaguadouro de uma luta iniciada na década de 80 do século passado, quando a mobilização da sociedade – em plena ditadura – impediu a instalação de uma grande usina de álcool no Pantanal. No estado de Mato Grosso do Sul foi aprovada a histórica Lei 328/1982.
O fim do Zoneamento será desastroso tanto para o Pantanal como para a Amazônia. Na Amazônia o efeito mais visível será o aumento do desmatamento e das queimadas, na medida em que crescerá a pressão por terras de boa qualidade – a cana o requer. Em qualquer região a chegada da cana leva a uma grande valorização das terras, o que leva atividades como a pecuária, por exemplo, a buscarem novas áreas, impulsionando o desmatamento. Um processo com efeitos mais lentos que no Pantanal, mas de grave impacto.
No Pantanal e na Bacia do Alto Rio Paraguai (BAP) os efeitos serão imediatos devido às características físicas particulares desta região. A parte alta da Bacia (planalto) drena para o Pantanal – uma grande planície com quase 200 mil Km² no centro da América Sul, de muito baixa declividade. A cana na parte alta aumentará o desmatamento, mudará a dinâmica dos rios, com carreamento de mais sedimentos, levando junto venenos agrícolas e outros agroquímicos como o nitrogênio. O que leva a proliferação de algumas espécies de plantas aquáticas e micro-organismos que o consomem rápido se proliferam e ocupam o lugar de outras, desequilibrando os ecossistemas, sua biodiversidade e eventuais atividades econômicas que dela dependem.
Nas lagoas e rios do Pantanal o efeito pode ser imediato: virá a explosão algas com liberação de toxinas, consumindo o oxigênio na água. O plantio na planície será o desastre total. Levará o deserto verde que é a cana para o coração do Pantanal, juntamente com seus venenos. Esse é apenas um dos efeitos certos.
Que a irracionalidade não prevaleça. Em defesa do Pantanal e da Amazônia.
Fonte: ECOA (Ecologia e Ação) – Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil