Com 700 mil casos de covid-19 e 37 mil mortes, governo briga com números e semeia confusão
Depois de perder, por omissão, batalhas contra o avanço do coronavírus, governo Bolsonaro passa a brigar com os números da covid-19
O Brasil registrou 1.382 novas mortes pelo coronavírus, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde por volta das 20h30 deste domingo (7). Os números do contágio de covid-19 teriam aumentado, segundo este balanço, em 12.581 novos casos. Por esse fechamento, portanto, o país acumularia desde o início da pandemia 695.427 casos de covid-19, com 37.312 mortes.
Uma hora e meia depois, surgiram novos números do Ministério da Saúde para a mesma epidemia. O número de casos confirmados em um dia aumentou para 18.912, totalizando 701.758. O total de mortes, porém, de acordo com essa segunda versão, caiu para 525 em 24 horas e 36.455 no total. A conta é da redação, já que a o ministério passou a omitir a totalização.
Depois de passar mais de três meses – desde o registro oficial do primeiro caso de coronavírus no país, em 26 de fevereiro – brigando com a gravidade da epidemia, o governo de Jair Bolsonaro, mudou o alvo. Passou a brigar com os números. Primeiro, atrasou boletins epidemiológicos, antes divulgado por volta das 16h, para depois das 19h. Depois, para após às 22h. “Acabou matéria no Jornal Nacional“, disse Jair Bolsonaro, admitindo o interesse em retirar dos telejornais da noite o impacto do avanço da pandemia.
Censura e ilegalidade
O site oficial do Ministério da Saúde sobre os números da covid-19 havia sido retirado do ar no fim de semana. Quando retornou, na noite de sábado, informações da totalização dos casos e mortes haviam sido excluídas. O painel passou a destacar o número de pacientes recuperados e a expor somente os dados das últimas 24 horas.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que o “novo modelo” de divulgação dos números sobre a covid-19 abordará o cenário atual da doença, com análise de casos e mortes por data de ocorrência. “O Ministério da Saúde vem aprimorando os meios para a divulgação da situação nacional de enfrentamento à covid-19”, diz a nota.
“Esconder os dados é ILEGAL e Ministro deve ser responsabilizado. Art. 6º §2º da Lei 13.979/2020: ‘O Ministério da Saúde manterá dados públicos e atualizados sobre os casos confirmados, suspeitos e em investigação, relativos à situação de emergência pública sanitária’.” A afirmação, publicada no Twitter, é da advogada atuante em direitos humanos Eloísa Machado, professora de direito e pesquisadora sobre o Supremo Tribunal Federal na Fundação Getúlio Vargas.
O ex-ministro da Saúde, deputado federal Alexandra Padilha (PT-São Paulo), disse também na rede social que esconder os números sobre a covid-19 é o jeito o jeito de “mascarar a culpabilidade de Bolsonaro em todo esse caos que o Brasil se encontra”.
Brincar com a morte
Integrantes de outros poderes da República reagiram à falta de transparência. O ministro do STF Gilmar Mendes criticou a manipulação de dados por parte do governo Bolsonaro. “Quando se começa a fazer esse movimento politico, a sonegar informação, a própria confiabilidade dos números passa a ser também colocada em cheque”, disse em entrevista para a CNN Brasil.
“Brincar com a morte é perverso. Ao alterar os números, o Ministério da Saúde tapa o sol com a peneira. É urgente resgatar a credibilidade das estatísticas. Um ministério que tortura números cria um mundo paralelo para não enfrentar a realidade dos fatos”, escreveu no Twitter o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“O Brasil é, agora, o único país sem dados apurados pela Universidade Johns Hopkins, referência global da covid-19. Censurar dados é prática comum de governos autoritários. É papel da sociedade civil organizada e instituições dar resposta à altura no combate ao obscurantismo”, afirmou em seu perfil no Twitter a deputada federal Fernanda Melchionna (Psol-RS).
Fonte: Rede Brasil Atual – Foto: Erasmo Salomão (Ministério da Saúde)