Como o MST se propõe a enfrentar o agronegócio plantando soja orgânica; agricultores de assentamento em MS semeiam 100 hectares de soja sem veneno
Agricultores do assentamento Ernesto Che Guevara, em Mato Grosso do Sul, semeiam 100 hectares de soja sem veneno
Erick Gimenes – Brasil de Fato
Agricultores do assentamento Ernesto Che Guevara, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, começaram o plantio de 100 hectares de soja orgânica, em um projeto que terá duração de cinco anos.
A ideia é contrapor o agronegócio de commodities que invade o país, em especial a região Centro-Oeste, que teve o maior crescimento na produção de grãos do ano no Brasil – 6,8% em relação ao ano passado, conforme os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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O plantio é feito pelas famílias assentadas e tem apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Mato Grosso do Sul. Segundo o MST, o objetivo é expandir o cultivo da soja orgânica para agricultores familiares de todo o país.
Para entender melhor o projeto e qual o significado da soja orgânica para o movimento, o Brasil de Fato conversou com Cleiton Valença, membro da direção estadual do MST em Mato Grosso do Sul.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato: O que se pretende com esse projeto experimental de plantação de soja orgânica?
Devido ao avanço do agronegócio aqui no estado do Mato Grosso Sul, a soja está tomando conta de todas as áreas produtivas, inclusive em assentamentos. É muita invasão de soja transgênica.
As grandes empresas vêm trazer os seus pacotes tecnológicos, explorando a terra, trazendo veneno, trazendo doença para dentro dos assentamentos.
Diante dessa situação, a gente fez um debate dentro do MST, no setor de produção nacional e estadual, e fizemos o desafio de fazermos o plantio de soja orgânica.
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Por que soja orgânica? Porque tem todo um protocolo de você respeitar a vida, respeitar o meio ambiente e trazer benefícios para as famílias. E contrapor o agronegócio. Provar que a soja orgânica é viável no mercado e livre de veneno.
Há uma invasão muito grande, dentro dos assentamentos, do agronegócio. Nós precisamos quebrar a monocultura. Só vamos conseguir fazer isso combativos.
A soja é, talvez, o principal símbolo desse agronegócio de exportação. A soja orgânica é também uma forma política de tentar quebrar a ideia de que a monocultura vale mais a pena?
Sim, essa é a ideia. Hoje, o principal alimento nosso é a soja, praticamente. Você vai ter uma alimentação saudável – você tem o óleo, tem o farelo. Então você vai trabalhar dentro de uma lógica. Com isso, estamos contrapondo o agronegócio.
O que vocês costumam produzir de alimento a partir de soja, já que a do agronegócio geralmente é usada só para alimentar animais no exterior? Como vocês fazem da soja um alimento direto para o prato do brasileiro?
Nesse primeiro plantio de 100 hectares nós fizemos uma parceria com uma empresa de ovos orgânicos. Esse vai ser o destinatário no primeiro ano. Mas estamos discutindo para poder fazer a nossa própria indústria a partir do segundo ano.
Fizemos uma parceria com uma empresa de ovos orgânicos.
Vamos poder esmagar a soja, tirar o óleo orgânico, que pode ir para a mesa do trabalhador tanto para comer quanto para ser vendido. Com o farelo, vamos tratar os animais nossos, que sobrevivem de farelo transgênico – tratar porco, tratar vaca. Serve para vários sentidos.
É possível que qualquer agricultor do Brasil produza a soja orgânica? É economicamente viável?
A soja orgânica hoje é viável, porque, como a gente trabalha com o orgânico, agrega valor. Hoje, a soja transgênica está em torno de R$ 130 [a saca]. Com a orgânica, se ganha 30% a mais em cima – então vai para R$ 150, R$ 170.
No orgânico, precisa de mão de obra, precisa capinar toda a lavoura nossa. No transgênico, como usa defensivo e passa o trator em tudo, não precisa de mão de obra. O orgânico, então, agregar valor para a economia dentro do assentamento. Além do preço bom, vai girar a economia para pagar diária.
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E é viável para todo o Brasil. Vamos fazer no Paraná, em São Paulo. Estamos começando a expandir para outros estados também. Fizemos uma parceria com a Embrapa. Eles vão ceder várias experiências da soja convencional para produzir soja orgânica. Vamos ter muita capacidade técnica e operacional para poder assessorar os outros estados.
Qual mensagem o MST, os assentados, querem passar a partir dessa experiência, dessa nova forma de se produzir soja?
Eu gostaria de dizer a todos os assentados, não só do MST, mas todos os pequenos agricultores, que esse projeto é viável para a reforma agrária. Nós não vamos envenenar os assentamentos nossos. Vamos criar nossos filhos livres de veneno, livres de doenças que os transgênicos vêm provocando.
É viável para poder gerar mão de obra dentro dos assentamentos. Então, que os pequenos agricultores venham fazer parte desse projeto dos grãos orgânicos do MST.
Edição: Rodrigo Chagas