Retomada das aulas presenciais na rede pública de Campo Grande, a partir de 19 de julho, foi tema de audiência pública nesta segunda (24)

Retomada das aulas presenciais na rede pública de Campo Grande, a partir de 19 de julho, foi tema de audiência pública nesta segunda (24)

O retorno às aulas nas escolas públicas municipais de Campo Grande permanece agendado para o dia 19 de julho, de forma gradativa, iniciando pelos estudantes do 6º ao 9º ano. Até agora cerca de 22 mil profissionais da Educação já tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e há um esforço para que haja a antecipação da segunda dose para que todos estejam com a imunização completa antes dessa data. Durante Audiência Pública na Câmara Municipal na manhã desta segunda-feira (24), vereadores, representantes dos profissionais, da Secretaria de Saúde, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública debateram essa volta às aulas com segurança e responsabilidade, conhecendo melhor os protocolos de biossegurança e também fortalecendo o psicológico de todos os envolvidos.

A Audiência foi presidida pelo vereador Prof. Juari, que está à frente da Comissão Permanente de Educação e Desporto da Câmara Municipal de Campo Grande, e secretariada pelo vereador Valdir Gomes, vice-presidente da Comissão, composta ainda pelos vereadores Ronilço Guerreiro, Professor Riverton e Beto Avelar. Na Audiência, foi feito encaminhamento para que a primeira semana de retomada das atividades presenciais seja dedicada ao acolhimento de professores e demais profissionais da educação, tanto para trabalhar o lado psicológico como para aprofundar na prática a aplicação dos protocolos de biossegurança, que já estão sendo repassados em curso on-line.

O vereador Prof. Juari ressaltou a necessidade do debate democrático, com opiniões diferentes sobre o tema, e o foco principal da Audiência, em discutir os principais desafios enfrentados pelas escolas diante da pandemia. “Quero dizer que, acima de tudo, defendo a vida e tenho certeza que todos da Reme (Rede Municipal de Educação) e também da Secretaria Estadual de Educação estão na defesa da vida. O retorno no dia 19 de julho é um planejamento, se algo acontecer vamos replanejar. Todo planejamento é flexível”, afirmou, destacando que todo o trabalho tem sido acompanhado pela Comissão.

O planejamento da Semed é para que o retorno presencial dos alunos do 6º ao 9º anos ocorra a partir do dia 19 de julho, logo após o recesso escolar, que ocorre do dia 2 a 16 de julho. Depois, será a vez dos estudantes do primeiro ao quinto ano. Para estas faixas etárias, deve ter um quantitativo máximo de 50% dos alunos em cada sala. Por último, está programado retorno da Educação Infantil, limitado ao quantitativo de 25% da capacidade.

“Estamos fazendo planejamento para dia 19 de julho, mas se ocorrer algo fora do planejamento essa data será revista, mas cremos que conseguiremos fazer retorno”, destacou a secretária municipal de Educação, Elza Fernandes. Ela ressaltou que o protocolo para volta às aulas foi publicado ainda em dezembro de 2020. Comissão realizou visitas às escolas e irá acompanhar esse retorno, para que tudo ocorra dentro do que for exigido nos protocolos de segurança.

“Só saberemos como será esse retorno na prática. Temos exemplo da particular e de escolas do interior. Estamos nos preparando e planejando para que aconteça com segurança”, disse a secretária. Pelas redes sociais da Câmara, professores que acompanhavam a Audiência questionaram sobre como funcionaria o ensino híbrido (parte dos alunos nas salas de aula e parte de forma remota). A secretária adiantou que não há possibilidade de os alunos que estão em casa receberem a transmissão on-line da mesma aula que está sendo ministrada, como ocorre em algumas particulares. Por isso, a proposta é realizar escalonamento para que os alunos sejam divididos em grupos, recebendo atividades para fazer em casa e na outra semana indo às escolas tirar as dúvidas.

Ela relembrou que todos foram surpreendidos pela pandemia e tiveram de se reinventar, reconhecendo os esforços dos professores que tiveram de gravar vídeos e atender de forma on-line os estudantes. A secretária ressaltou que as aulas não foram suspensas na pandemia e escolas somente fecharam temporariamente no pico da doença. “Tivemos todo cuidado em não deixar nossos alunos desassistidos”, disse, acrescentando ainda informações sobre a entrega de kit merenda aos alunos beneficiários do Bolsa Família e também a busca ativa, com o Conselho Tutelar, daqueles que não estavam participando das aulas.

Segurança e vacinação – Ainda sobre a questão da segurança no retorno, a superintendente de Vigilância em Saúde do Município, Veruska Lahdo, detalhou a participação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) no planejamento de retorno às aulas, participando de oito reuniões sobre o tema no ano passado e de capacitação até a elaboração do protocolo de biossegurança, que já vem sendo aplicado nas particulares. “A Secretaria vem colaborando nessa elaboração dos planos, primeiro no “plano mãe”, seguido por todas as instituições. Muita coisa foi mudando e fomos crescendo na temática Covid, para garantir o máximo de segurança possível”, ressaltou. Ela acrescentou que a Vigilância mantém monitoramento do que está sendo executado pelas escolas, para verificar se os planos estão sendo respeitados e seguidos, sempre com “intuito de colaborar e não punir as escolas”.

Outro ponto debatido foi em relação à vacinação dos profissionais. A secretária Elza Fernandes assegurou que está em conversação com o secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, para que os profissionais possam receber essa segunda dose antes do retorno às atividades. Será feita ainda a repescagem daqueles que não conseguiram tomar a primeira dose.

A importância da imunização completa, respeitando o período para que a vacina produza a eficácia esperada, também foi salientada pela presidente do Conselho dos Diretores e Adjuntos das Escolas Municipais, Lúcia Oliveira, e pelo presidente do Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Básica (ACP), Lucílio Nobre. “Compreendemos as dificuldades dos pais em casa, mas o que a gente pede é a preservação da vida, em primeiro lugar é a vida. Temos uma realidade de escola pública muito diferente da particular. Temos interesse de voltar, mas com segurança e condições de preservar nossas vidas e dessas crianças circulando com suas famílias”, afirmou Lúcia Oliveira, ressaltando a necessidade da segunda dose e o trabalho que será feito no pedagógico para “corrigir” as perdas do período sem aulas presenciais.

A preocupação com aumento dos casos de coronavírus foi levantada pela vereadora Camila Jara, que ressaltou a importância de debater incansavelmente o tema. “Infelizmente, as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento Médico) voltaram a ficar lotadas, são muitas pessoas nos postos esperando vagas nos hospitais. Defende o retorno dos alunos, pois muitas famílias, principalmente as mulheres, foram prejudicadas tendo de deixar emprego para ficar com crianças em casa. Mas, os profissionais precisam estar imunizados com a segunda dose e a estrutura preparada para receber alunos e profissionais”, disse.

Vice-presidente da Comissão de Educação, o vereador Valdir Gomes ressaltou que os professores estão trabalhando mais que nas salas de aula. “Temos dois segmentos, os heróis da saúde e os heróis da educação. As mães ligam porque não são obrigadas a saber tudo, muitas vezes têm quatro filhos e um aparelho celular pequeno para todos. Queria passar mensagem de gratidão. Sou a favor que voltem as aulas, mas com todos vacinados. Hoje as UPAs estão com 280 pessoas que não têm para onde ir. É uma doença mundial”, disse. Ainda no começo do ano, a Câmara promoveu debate sobre o tema e a maioria dos vereadores defendeu que esse retorno só ocorresse após a imunização de todos os profissionais, como vem sendo feito.

Debate – A Promotora de Justiça da Infância e Juventude, Vera Aparecida Bogalho, que coordena o Grupo de Atuação Especial da Educação, defende o retorno às aulas com o protocolo de segurança. “Não podemos recuar. Digo isso porque as crianças estão nos restaurantes, shoppings, vão para os parques e as escolas são um dos pontos mais seguros. Ali tem que obedecer o protocolo, os professores serão preparados”, afirmou. Ela acrescentou que não há parâmetro legal para funcionar a escola particular e não a pública. ”O único setor abandonado na pandemia é o da educação. Nossas crianças e adolescentes estão aprisionados e há uma responsabilidade imensa aos pais, muitos que trabalham o dia inteiro”, disse.

O presidente da ACP, Lucilio Nobre, discorda que a educação esteja abandonada e ressaltou os esforços dos professores. “A educação não está abandonada, me magoa quando alguém usa a Tribuna para falar isso. Não dá para desconsiderar tudo que é trabalhado”, disse, ressaltando as diferenças da rede pública em relação às escolas particulares, tanto em relação a estrutura quanto à quantidade de alunos. “O retorno tem que ser gradual e com muita responsabilidade. Encaminhamos questionário aos diretores para  saber a realidade escolas, desde a quantidade de administrativos até espaço físico escola”, disse. Ele também defendeu a primeira semana destinada à acolhida, para trabalhar emocional dos profissionais, conforme sugerido na Audiência.

O retorno com segurança e responsabilidade foi destacado pela defensora pública Debora Maria de Souza Paulino, do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, que também acompanha desde o início as reuniões promovidas sobre volta às aulas na pandemia. “A pergunta principal é sobre o momento adequado para esse retorno, que deve ser após redução de mortes por Covid-19 e protocolo de segurança. Precisamos olhar todo contexto e ouvir os que serão diretamente atingidos, professores, fiscais de pátio, merendeiras. Temos situação que nos privilegia de manter distanciamento, uso de máscara e protocolos. Queremos retorno, mas acima de tudo com segurança e responsabilidade, pois vejo quanto os professores têm se desdobrado para atender esses alunos”, ressaltou.

O vereador Sandro Benites, presidente da Comissão de Saúde da Casa de Leis, avalia que será necessário aprender a conviver com a doença. “Não tivemos aumento da incidência ou epidemia entre as crianças, o que é um argumento lógico e racional. Existe abismo entre a rede pública e particular, mas vamos treinar profissionais para que crianças voltem com segurança. O medo não pode vencer”, disse. Ele ressaltou ainda dos problemas psicológicos na população em decorrência do isolamento, citando exemplo relatado por um médico do Canadá, e salientando a necessidade de olhar para o que deu certo em outros países para ser aplicado aqui.

Psicológico – Os impactos emocionais da pandemia, tanto em alunos quanto em professores, também foram debatidos na Audiência, que contou com explanação da psicóloga Ediane Ferreira Palhano logo na abertura da discussão. “Quem irá retornar para aulas presenciais? Somos os mesmos após vivenciar pandemia mundial?”, propôs em reflexão sobre as perdas imensuráveis e o quanto cada um foi devastado pela pandemia. As habilidades sociais estão na lista dos itens afetados pelo distanciamento.

“Tudo que for discutido e conversado, tende a diminuir a angustia, qualquer que seja o assunto. Quanto mais pontos de obscuridade tivermos, mais ansiedade teremos. Não podemos abrir mão de pensarmos no sentimento daqueles que irão retornar às aulas, porque a gente pode se preparar para isso. Impossível pensar que vamos ensinar Matemática e Português como se nada tivesse acontecido. Estamos lidando com mortes”, recordou.

Psicólogo, o vereador Roniço Guerreiro destacou que “existe o ideal e o real. O ideal seria que a pandemia não existisse, com alegria das crianças nas escolas. Mas a realidade é essa, ninguém sabe como vai ser, mas precisamos enfrentar e é bom ouvir a importância do professor. Como ficou provado agora a importância da escola na formação da criança. Não estávamos preparados para isso e professores foram fantásticos”, disse.

O planejamento desse retorno também foi enfatizado pelo vereador Professor Riverton, que ainda no começo do ano esteve em Brasília (DF) para reivindicar a inclusão dos professores no grupo prioritário da vacinação. Ele parabenizou os professores, que se reinventaram durante a pandemia. “Defendo a ciência e ficamos reféns das informações e escolas públicas não podem pagar por erro histórico de estrutura. Por isso, temos que discutir protocolos de segurança, EPIs, além do trabalho para recuperação da aprendizagem”, disse.

O vereador Tabosa também elogiou o trabalho de todos os professores e demais profissionais da Educação. Durante a Audiência, cobrou o andamento do plano de cargos e carreiras dos administrativos da Educação. A secretária Elza Fernandes disse que comissão já está debatendo o assunto.

(Fonte: Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal/Milena Crestani – Foto: Izaías Medeiros)

Presidente da ACP/Campo Grande defende retorno às aulas presenciais com segurança, apenas após imunização completa da categoria; audiência na Câmara debateu retorno

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