Apologia ao nazismo em Campo Grande: sindicato diz que postura da direção do Instituto Federal é uma afronta às vítimas de racismo e ameaças de morte
Após a denúncia de apologia ao nazismo e ameaças de morte a alunos do Instituto Federal de Educação de Mato Grosso do Sul, por conta de origem racial, feitas por um aluno da unidade de Campo Grande (MS), o Sinasefe/MS (sindicato que representa os servidores do Instituto) divulgou nota cobrando da direção uma rigorosa investigação dos fatos.
Para o sindicato, “a rápida manifestação da instituição alegando que os atos ocorreram “fora da instituição” não são dignos de uma instituição de ensino, que antes de mais nada deveria estar atenta e vigilante quanto às manifestações de racismo e/ou nazismo envolvendo seus estudantes. Eventos como esses não são de menor responsabilidade do IFMS por terem ocorrido “fora” da instituição. Para as vítimas da violência racista não existe fora ou dentro, afinal, são elas que enfrentam a violência com seus corpos e subjetividades, “dentro” ou “fora”.
Nota do SINASEFE – MS sobre denúncias de nazismo dentro do IFMS
O Sinasefe-MS vem a público manifestar seu repúdio aos eventos de racismo e apologia ao nazismo ocorridos no campus Campo Grande do IFMS. Manifestamos, antes de mais nada, nossa preocupação e mais profunda solidariedade às vítimas da violência racista. Salientamos que a nota de imprensa nº 002/2022, divulgada no dia 15 de Março pela instituição é uma afronta às vítimas por negar “a veracidade das ameaças” denunciadas. Mesmo existindo declarações da polícia quanto à materialidade dos eventos, sem contar os depoimentos das famílias atingidas pela violência, a gestão do IFMS esforça-se por minimizar a gravidade dos relatos o que, a nosso ver, é inadmissível e pode retraumatizar as vítimas
No mesmo sentido, a rápida manifestação da instituição alegando que os atos ocorreram “fora da instituição” não são dignos de uma instituição de ensino, que antes de mais nada deveria estar atenta e vigilante quanto às manifestações de racismo e/ou nazismo envolvendo seus estudantes. Eventos como esses não são de menor responsabilidade do IFMS por terem ocorrido “fora” da instituição. Para as vítimas da violência racista não existe fora ou dentro, afinal, são elas que enfrentam a violência com seus corpos e subjetividades, “dentro” ou “fora”.
Exigimos que o IFMS adote a mais rigorosa investigação quanto ao caso, é preciso levantar todas as informações possíveis quanto aos contatos e redes do referido agressor. Devemos garantir segurança aos servidores e estudantes, que podem até mesmo estar sob a ameaça de organizações criminosas neonazista [1]. A colaboração com a polícia e respectivos órgãos de inteligência, no intuito de debelar possíveis articulações de células nazistas na instituição é tarefa urgente e deve pautar-se pela maior visibilidade possível. Entendemos que o provimento à lei nº 7.716/89 é fundamental nas ações da instituição nesse momento, além do mais, reforçamos que os trabalhos de formação pedagógica de toda a comunidade devem ampliar e dar suporte às ações já existentes no âmbito dos NEABIs (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas).
Destacamos que toda diversidade humana, seja étnica, racial, religiosa ou de gênero em nossa comunidade acadêmica é motivo de orgulho para nós, mas também reconhecemos que as ações de combate ao racismo estrutural, que perpassa a sociedade brasileira, devem ser permanentes, uma vez que a diversidade não se confunde com a falácia da “democracia racial” à brasileira. Além disso, o STF definiu que liberdade de expressão não protege apologia ao nazismo[2]. Por fim, mas não menos importante, exigimos que a gestão do IFMS reformule a nota número 002/2022 à luz do princípio de solidariedade e acolhimento das vítimas, que foram duplamente aviltadas, primeiro pelo agressor, em segundo lugar pelo IFMS que as silencia ao não conferir veracidade às ameaças brutais a que foram submetidas. Nós do SINASEFE-MS seguimos firmes na disposição de lutar contra todas as formas de discriminação ou preconceito como, por exemplo, étnico-racial, de religião, de procedência nacional tal como à população LGBTQIA+.
[1] Segundo um levantamento feito pela antropóloga Adriana Dias, que pesquisa sobre o tema há cerca de 20 anos, o número de células nazistas no país teve um salto nos últimos anos: enquanto em 2015 eram 75, em maio deste ano foram encontradas 530. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59733205.
[2] https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/no-caso-ellwanger-stf-definiu-que-liberdade-de-expressao-nao-protege-apologia-ao-nazismo/
(Fonte: Sinasefe/MS)