Aumento dos preços: depois dos “Fiscais do Sarney” terá o Brasil os “Fiscais do Bolsonaro”?
Um pouco de Pesquisa Histórica:
O governo do presidente José Sarney foi marcado pela inflação. A desvalorização dos salários, com achatamento do poder de compra dos trabalhadores, já vinha do regime militar, do qual Sarney foi um mero continuador diga-se de passagem (ele sempre foi do partido que apoiava a ditadura, a ARENA). A crise que levou os militares a se retirarem da cena política (estagnação econômica + desemprego + inflação) se acentuou no governo de Sarney. Foram vários os planos econômicos para se tentar tirar o país da situação.
Sarney apelou para o congelamento de preços. Uma completa heresia para os economistas liberais, para quem os preços devem ser regulados pelo “mercado” sem intervenção do estado. Os empresários brasileiros, que seguem antes de tudo a lei do liberalismo econômico da oferta e da procura – com muita especulação no meio, ignoraram e passaram a aumentar os preços. Foi quando surgiu o mercado paralelo. O tal do ágio. O preço oficial era um. Mas para adquirir o produto você tinha que pagar o tal do “ágio”, o preço real, que era bem acima do preço oficial. Ou ficar sem o produto.
Foi aí que entraram em ação os patriotas que apoiavam o Sarney. Iam para a frente dos supermercados com a bandeira nacional e fechavam os estabelecimentos cantando o Hino Nacional com a Constituição na mão e rezando o Pai Nosso.
Pois não adiantou nem a Bandeira, nem o Hino, nem a Constituição, nem o Pai Nosso. Nem com reza brava os preços baixavam e o país viveu um período de desabastecimento. Até cerveja sumiu das prateleiras. Gerou uma crise nacional de desabastecimento nos supermercados. Os empresários queriam liberação dos preços. Sarney mandou a polícia laçar o boi no campo para tentar reabastecer o mercado de carne (verdade tem fotos de policiais federais laçando boi no campo). Foi um fiasco.
Ao final os empresários venceram a queda de braço e os preços foram “descongelados” e voltamos para a espiral de hiperinflação. Os preços eram remarcados várias vezes ao dia nos supermercados. Era cena comum ver nos estabelecimentos os funcionários com a maquininha remarcando os produtos. No último mês do governo Sarney a inflação oficial foi de 84,3% ao mês (março de 1990)! E isso a inflação oficial, na realidade foi maior. Terminava melancolicamente a era Sarney e começa a era Collor… que também teve pacote econômico contra a inflação… inclusive com confisco do dinheiro da conta corrente e poupança, o que deixou a classe média irada. A era Collor durou dois anos, caiu por corrupção no círculo familiar e próximo do presidente. Mas aí já demanda outra pesquisa.
A pesquisa histórica pode ter grande utilidade, se aprendermos com o estudo do passado para não repetirmos os mesmos erros no presente. Não adianta apelar para o patriotismo abstrato quando estão em jogo interesses materiais bem concretos… O jogo é pesado, e os trabalhadores pagam um preço grande (traduzido em queda do poder aquisitivo dos salários e retirada de direitos) até caírem na real e entrarem em cena de forma organizada e com mobilização para tentarem equilibrar o jogo.
Eber Benjamim – Jornalista/Gazeta Trabalhista
(Foto: Agência Brasil)
Que legal…!!
Esta foi uma visita excelente, gostei muito, voltarei assim
que puder… Boa sorte..!