O camarão de Bolsonaro e o sapo barbudo de Brizola
A internação de Bolsonaro no primeiro dia útil do ano – após curtir férias no sul do país – rendeu todo tipo de gozação e dúvidas sobre a veracidade do fato. Memes sobre “atestado médico” no primeiro dia de trabalho do ano foi o que mais se viu. O presidente e seu médico particular alegam que foi uma porção de camarão não mastigado que teria causado a indigestão presidencial. Depois de levantar a hipótese até de cirurgia, por estar “passando mal”, eis que o presidente compareceu a jogo de futebol no primeiro dia após a alta hospitalar, algo que seria impróprio para quem até poucas horas antes estava internado e quase precisando de operação.
O indigesto camarão travou a digestão presidencial. Mas tem algo mais indigesto no horizonte de Bolsonaro.
Já no final da ditadura militar, em 1982, foi restabelecida a eleição para governadores dos estados. No Rio de Janeiro venceu Leonel Brizola, que após voltar do exílio com a anistia, fundou o PDT e foi lançado candidato a governador. Para fúria de alguns generais, a vitória de Brizola era um sapo que precisava ser engolido em nome da “abertura lenta, gradual e segura” para a democracia arquitetada pelo general Golbery do Couto e Silva.
Com a vitória de Brizola confirmada, um general soltou uma pérola: “Brizola é um sapo que a gente engole, digere e expele na hora certa”. Mais à frente, Brizola apoiaria Lula para presidente, sendo inclusive seu vice nas eleições de 1998. Se Brizola já era um prato indigesto para a direita brasileira, imaginem Lula, um operário, nordestino, sem curso superior, líder de um grande movimento grevista que acelerou o fim da ditadura e fundador do Partido dos Trabalhadores.
Com seu sarcasmo habitual Brizola sacou essa: se ele foi considerado um sapo de difícil digestão pela direita, já pensou terem que engolir e digerir Lula? Se digerir um sapo já é difícil, imaginem um sapo barbudo…
O camarão pode até ter sido a causa da paralisia intestinal de Bolsonaro, mas o que é indigesto mesmo para o bolsonarismo neste momento é a possibilidade de perder a eleição. E não apenas perder a eleição, mas perder a eleição para o Lula!
Aí o intestino da direita verde-amarela vai trancar de vez.
Eber Benjamim – Jornalista/Gazeta Trabalhista
(Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)