Opinião: Corumbá não pode relaxar no isolamento/distanciamento social

Opinião: Corumbá não pode relaxar no isolamento/distanciamento social

 Com base nas experiências de Três Lagoas, Guia Lopes da Laguna, Rio Brilhante, Campo Grande e Dourados, é preciso muita atenção com o setor econômico, em nosso caso mineradoras, trade de turismo e terminal rodoviário.

A despeito da irresponsabilidade de inúmeras pessoas que insistem em descumprir as medidas de isolamento/distanciamento social como única forma disponível no momento para conter a expansão da pandemia de covid-19 em Corumbá e Ladário, ainda podemos ter esperanças (não ilusão) de que nossa região consiga fazer o chamado “achatamento da curva” sem o desespero com o qual se depara a população de Dourados e Três Lagoas (dois dos quatro epicentros da pandemia no estado).

Insistimos na esperança, mas são inúmeros os fatores que permitem aos pesquisadores, técnicos e gestores da área de saúde acender o sinal de alerta. A primeira vítima fatal da covid-19 de Corumbá e o aumento vertiginoso da transmissão comunitária fazem com que o relaxamento das medidas de contenção do contágio devam ser reavaliadas, e com urgência, até porque o único hospital não privado (pois ele não é publico, apesar de estar sob intervenção tripartite, isto é, das três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde) tem poucos leitos clínicos e de CTI para os infectados pelo novo coronavírus.

E diferentemente da dicotomia caricaturizada pela gestão federal (saúde X economia), o enfrentamento à pandemia não só tem compromisso com a vida como também com o desenvolvimento econômico, social, cultural e até com a preservação ambiental e da soberania nacional. Em caso de qualquer dúvida, nunca é demais vermos países como a Nova Zelândia e Portugal (um na Oceania e o outro na Europa) que, a despeito de não serem potências militares e financeiras, fizeram o dever de casa muito bem feito e evitaram a corrosão econômica causada pelas perdas humanas da covid-19. Enquanto Estados Unidos e Inglaterra ainda amargam os impactos de uma estratégia equivocada ao retardar as medidas de isolamento social, os dois países menores engrenam a retomada das atividades, mas dentro do chamado “novo normal”, e atentos para eventual segunda onda da pandemia.

Reitero: não tenho qualquer procuração ou vínculo com a atual administração municipal, mas digo, com toda desenvoltura e sinceridade, que até o momento a gestão da crise conduzida pelos gestores municipal e estadual da saúde, à luz das prudentes orientações técnico-científicas dos integrantes dos respectivos Centros de Operações de Emergência em Saúde (COES), merece reconhecimento público e louvor, extensivo a todas as categorias ligadas à saúde, logística e segurança. É certo que, em alguns momentos, os administradores acabaram cedendo à pressão de setores econômicos, mesmo porque as medidas que deveriam dar suporte financeiro às atividades econômicas de todos os segmentos e porte (tamanho), de responsabilidade do governo federal, não vieram a tempo, tal como as de auxílio social, ainda pendentes para quase 10 milhões de solicitantes.

A covid-19 não tem vacina ou qualquer outra profilaxia cientificamente comprovada até o momento, por isso a única forma eficaz de conter a transmissão do novo coronavírus é o isolamento ou distanciamento social, ao lado da nova etiqueta de higienização e de convívio em ambientes laborais e públicos. É nesse contexto que se enquadram as atividades econômicas, de relevância inquestionável. Em nosso caso, o trade de turismo, transporte rodoviário de passageiros, mineradoras e determinadas atividades comerciais precisam urgentemente rever os protocolos de biossegurança. As experiências ocorridas em Guia Lopes da Laguna, Rio Brilhante e Dourados (novo epicentro da pandemia no estado), bem como antecedentes em Três Lagoas e Campo Grande, servem de alerta para todos nós.

É inimaginável como a capital do estado dá mau exemplo ao reabrir sua rodoviária dez dias depois de fechá-la ao serem flagradas empresas rodoviárias em viagens clandestinas para outros estados, quando há uma lei municipal que as proíbe, tão somente por causa dos riscos de aumentar o contágio, já em crescimento exponencial. Da mesma forma, o simples anúncio da reabertura das escolas particulares da capital, sob alegação de que muitos educandários se encontram em dificuldades financeiras (e quem não está diante de tais dificuldades, em menor ou maior gravidade?), quando poderiam reivindicar algum mecanismo de suporte financeiro. Fazer com que nossos filhos ou netos se exponham ao risco de infecção não é atitude de quem fez opção pela formação das futuras gerações de profissionais e dirigentes públicos. Essa inversão de valores, aliás, é que se encontra em xeque pela crise decorrente da pandemia.

Fazendo coro ao querido Amigo (com letra maiúscula) nonagenário, Seu Jorge Katurchi, Corumbá é um paraíso na Terra, a despeito de algumas precariedades decorrentes da falta de representatividade no contexto regional e nacional (nos últimos anos revertida, com a eleição de um ex-senador, uma deputada federal e um deputado estadual). Sem dúvida, há muito por ser feito, e há também muitas injustiças. Já dizia o querido e saudoso Amigo Padre Ernesto Sassida, que ficou impressionado com a desigualdade social gritante numa região com tanta fartura e desperdício, razão pela qual desenvolveu a magistral obra social que tornou célebres o Pantanal e sua gente, a sua maior riqueza. E é pela vida dessa gente que precisamos nos dar as mãos, novamente.

Por Ahmad Schabib Hany

Foto: site prefeitura de Corumbá

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