
OPINIÃO/ELEIÇÕES ADUEMS: Ex-presidente não pode ser usado de bode expiatório
*Por Marcelo Batarce
Há um conjunto de críticas às posições e ações tomadas pelo ex-Presidente do sindicato no contexto de sua renúncia ao cargo. De fato, um presidente de sindicato renunciar para assumir um cargo na administração da universidade ou para seguir uma carreira política em partidos comandados pelos patrões é um grande desserviço para a luta dos trabalhadores. No entanto, apontar as metralhadoras para esfera do individual é um “erro” de análise grave. Isto desvia a atenção do jogo político que se trava e das forças que estão envolvidas nele que em última análise são de base econômica. Isto também favorece justamente os setores que querem se esconder, lavar as mãos, aparecer como limpinhos para atuar de modo mais pleno neste processo de ataque à classe dos trabalhadores. É prática corrente da direita usar e descartar os indivíduos de acordo com seus interesses oportunistas e não devemos participar deste jogo. Nossa posição e crítica devem sempre ter um ângulo independente deste festival macabro.
É importante, antes de tudo, evitar que o moralismo sobreponha a análise política. Atitudes como as do ex-Presidente do sindicato não são incomuns nem estranhas ao sindicalismo, o que inclui o sindicalismo do ANDES, neste estágio de putrefação e burocratismo e da crise do sistema político liberal. Mas é fundamental destacar: o ex-presidente não agiu sozinho. Na realidade, não havia como. Hoje está claro que um conjunto de pessoas participaram ativamente na organização, planejamento e execução do processo da substituição do ex-Presidente.
Como é sabido, muitos caminhos poderiam ser seguidos, talvez alguns menos traumáticos inclusive para o ex-presidente. Por exemplo, havia a possibilidade de uma renúncia individual, sem que houvesse dissolução da diretoria. De todo modo, o caminho que se seguiu, da dissolução da diretoria, não poderia ser tomado de modo individual, dependia, antes de tudo, ao menos de uma terceira pessoa a saber, ex-vice-presidente quem teria também de renunciar. Aqui, portanto, a esfera individual já foi forçosamente ultrapassada. Mas isso está longe de ser tudo. A renúncia do ex-Presidente como sabemos foi consequência do aceite de uma outra função na burocracia do sistema administrativo e desta forma, envolveu uma negociação e consequentemente mais pessoas. Para os administradores do sistema, o sindicato também é uma peça da burocracia e tratava-se, deste ângulo, de um deslocamento de uma peça no tabuleiro, de uma posição para outra, mantendo o domínio das duas posições!
Vamos adiante. Mesmo com a dissolução da diretoria, havia ainda muitas possibilidades de condução do processo de transição. E é neste ponto que devemos nos focar. Seria possível e até prudente abrir um amplo debate e construção com os filiados deste processo de transição. O caminho que se seguiu no entanto foi outro: chamar uma eleição através de um Edital confuso que estipulava duas semanas para inscrição de uma chapa que envolveria 15 unidades. Toda a turbulência deste caminho seria insustentável para um único indivíduo. E só um masoquista poderia escolher isso a partir de algum desejo exclusivo. Dada a complexidade do processo, seria impossível ser planejado e executado por uma única pessoa. A parte mais traumática de todo o processo não tem, de modo algum, característica de uma decisão individual.
Hoje sabemos que antes da renúncia do ex-presidente, já havia um processo de formação de uma “nova diretoria”. E veja bem, falava-se de uma “nova diretoria” e não do processo da construção de uma transição democrática. Vamos marcar bem a diferença destas duas possibilidades para que não reste dúvidas. Estabelecida toda a crise da dissolução da direção sindical, poderia-se juntar as pessoas, as diferentes forças políticas, chamar uma assembleia, construir um calendário eleitoral factível, etc… – similar ao que ocorre (ou ocorria) nos processos eleitorais de países de democracia liberal na Europa. Ao invés disso, houve um movimento de “escolha de nomes” para nova diretoria, inclusive com o apoio do ex-presidente e dos recursos do sindicato.
Esse movimento de supressão do debate democrático dependeu não apenas das pessoas que encabeçavam e se beneficiavam dele – parte das pessoas que ocupariam a “nova diretoria” e as forças políticas de apoio a ela – mas também de um sindicato desmobilizado e enfraquecido, com pessoas mal informadas. A informação de que havia um processo eleitoral de só uma chapa seria obviamente a própria corrupção do processo. Isso permitiria que ao se anunciar publicamente as eleições, uma chapa já estaria previamente montada.
Quando se coloca a questão para além da esfera pessoal um outro conjunto de questões se abre: Por que a necessidade de evitar um processo de transição mais suave e democrático? Por que escolher por um processo que causaria embate e desgaste?
* Marcelo Batarce é docente na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
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