Prefeitura de Campo Grande libera atividades econômicas mas não consegue fazer cumprir as regras; resultado pode ser trágico

Prefeitura de Campo Grande libera atividades econômicas mas não consegue fazer cumprir as regras; resultado pode ser trágico

Falta de fiscalização leva ao descumprimento generalizado das normas mínimas. Maioria da população não usa sequer máscara nas ruas e comércios da capital. Distância entre as pessoas não é respeitada. Se o coronavírus já estiver disseminado massivamente resultado pode ser trágico daqui algumas semanas.

  Pressionado entre a necessidade do isolamento social (quarentena) para conter a expansão da contaminação, o medo de quebra generalizada e ameaças de demissões apregoadas pela patronal, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, cedeu e baixou decretos liberando atividades econômicas, estabelecendo algumas regras para o funcionamento.

  No entanto o que se vê nas ruas e estabelecimentos é o descumprimento dessas normas mínimas, sem que a prefeitura consiga coibir as infrações. Seja pela falta de fiscais, e de estrutura para estes; seja pela falta de vontade política de autuar os infratores, o desrespeito ao decreto “corre solto” na capital de Mato Grosso do Sul.

  Filas, aglomerações, não cumprimento do distanciamento mínimo, o não uso de máscaras e luvas, tudo isso junto é o “caldo de cultura” perfeito para a disseminação do coronavírus. A absoluta falta de consciência de parte significativa da população, a ignorância quanto à necessidade do cumprimento dessas normas, será paga por essa mesma população que parece viver num mundo onde o coronavírus não existe. A ausência do conhecimento de medidas básicas de higiene e de medidas de proteção individual e coletiva leva-nos concluir o quanto é necessário o investimento na Educação Básica.

  É realmente incrível constatar que após tanta informação nos meios de comunicação e nas redes sociais, a maioria das pessoas saia nas ruas sem sequer uma máscara, comprometendo a si própria e aos outros. É uma verdadeira irresponsabilidade individual e social, uma total falta de senso de coletividade e de respeito ao próximo e uma desconsideração com a própria saúde. Seremos tão ignorantes assim?

  Chamou a atenção que o prefeito tenha liberado atividades como salões de beleza, após uma fala desastrosa – ridícula mesmo – do vereador Delegado Wellington, cujo argumento “de peso” foi o de que os maridos não vão mais suportar as mulheres em casa sem o cabelo e unhas feitas; e que maridos com ideias assassinas poderiam levar a cabo o feminicídio caso encontrassem as igrejas fechadas e isso seria interpretado como um “sinal” de que deveria cometer o crime.

  Ressalte-se também o péssimo exemplo do presidente da República, Jair Bolsonaro, que em total dissonância com o que é defendido pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde, insiste em promover aglomerações e contato físico sem o uso de máscara e luvas, minimizando tanto a gravidade da doença – “uma gripezinha” – quanto a necessidade do isolamento/distanciamento social.  Que exemplo esse presidente dá para a população? É claro que o comportamento de Bolsonaro influencia negativamente dezenas de milhões de pessoas, que podem argumentar: se o presidente faz isso, nós também podemos! Se o presidente está falando que é “só uma gripezinha”, então não é grave!

  Com vereadores do “naipe” do Delegado Wellington, um executivo municipal incapaz de fazer cumprir seus próprios decretos e um presidente da República que vai na contramão de tudo o que é recomendado pelos especialistas da Saúde, chegamos no dia 9 de abril, quinta, no topo nacional do descumprimento das normas, com a menor taxa de isolamento social do país.

  Do ponto de vista da saúde isso tudo junto pode ser um desastre. O que o Ministério da Saúde tem alertado é que ainda estamos na fase de ascensão da contaminação comunitária. Isto significa que o coronavírus está se disseminando silenciosamente, e quando se manifestar com intensidade o resultado pode ser o colapso do sistema de saúde daqui algumas semanas.

  Resta-nos “torcer” para que a quantidade de contágios se reduza por si mesma. Ou em breve teremos uma situação como a de Manaus, onde não existem mais vagas nos hospitais para quem chega.

  O momento não é fácil, o impacto econômico já é grande, porém quanto menos se cumprir as normas de isolamento maior será o impacto no futuro. O fim precipitado da quarentena levará a uma perda econômica maior do que a que já temos, fora as perdas humanas. É necessária neste momento a consciência da gravidade por parte de todos: população, poder público e agentes econômicos.

Eber Benjamim / Editor / Gazeta Trabalhista

 

Imagem: site Prefeitura de Campo Grande

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