Lançado em Corumbá o Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia
Aconteceu ontem (24) o lançamento do Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia no município de Corumbá por iniciativa de um coletivo de entidades, movimentos, espaços públicos não estatais e demais organizações da sociedade civil de Corumbá e Ladário. O objetivo é fortalecer a contenção da pandemia, em razão da baixa adesão da população e o crescimento vertiginoso de infectados pela covid-19.
Além da mobilização de diferentes setores que se somarão ao fortalecimento das medidas restritivas determinadas pelas autoridades sanitárias do município e do estado, iniciativas de solidariedade aos segmentos vulnerabilizados e campanhas de educação popular permanente estão sendo planejadas, tomando o maior cuidado e usando a tecnologia e o distanciamento social para a sua realização.
Manifesto da Comissão Pró-Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia (minuta)
Nascida da inquietude cidadã dos/as integrantes das entidades, movimentos, coletivos, comunidades religiosas, espaços públicos não estatais e lócus signatários deste manifesto constitutivo, o Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia vem se somar às iniciativas de contenção e de combate à pandemia da covid-19 que tentam desesperadamente pôr fim à crescente perda de dezenas de milhares de vidas, acometimento de centenas de milhares de pessoas e mudança de comportamento aos mais 210 milhões de habitantes que conformam a população brasileira.
Somos cidadãos/ãs das mais diferentes atividades profissionais e segmentos sociais, sinceramente preocupados/as e motivados/as única e tão somente com a preservação da Vida e da dignidade de nossos semelhantes em Corumbá e Ladário (MS), sem perder de vista nossa condição de região fronteiriça, no coração do Pantanal e da América do Sul, que desde sempre acolheu todos os povos, vindos dos mais diferentes lugares do planeta, com suas culturas, tradições, crenças, concepções e propósitos.
Nestes dias difíceis impostos pelo novo coronavírus, em que precisamos cumprir com o isolamento/distanciamento social até como demonstração de nosso amor ao próximo, a maior demonstração de solidariedade e de empatia pela humanidade não é outra que a partilha de nossa esperança e determinação de que seremos capazes de superar, com serenidade e respeito ao próximo, este verdadeiro tsunami planetário.
E entendemos que isso se traduza com gestos simples, mas efetivos, de acolhimento aos/às mais vulneráveis: migrantes, pessoas em situação de rua, desempregados/as, ambulantes, camelôs, populações tradicionais (ribeirinhos/as e pescadores/as), povos originários (Guató, Ayoreo, Chiquitano), agricultores/as familiares (assentados/as e colonos/as pantaneiros/as), feirantes, microemprendedores/as e pequenos/as comerciantes que têm em suas atividades diárias seu digno sustento, a sobrevivência de si, dos/as seus/uas e dos/as que estão em volta.
Solidariedade jamais será uma palavra vã: ela traz em si histórias, atitudes e gestos sinceros de apoio incondicional, de zelo pelo bem comum, por tudo aquilo que, por ser de todos/as, parece não ser de ninguém. É em momentos críticos como este que nos damos conta que não há riqueza maior que o nosso povo, a vida de todos/as e, sobretudo, as mãos dadas de uns/umas com os/as outros/as e todos/as por todos/as.
Viemos para somar fé na humanidade, amor ao próximo, esperança no caminhar coletivo e certeza no amanhã alicerçado em um presente de comunhão, sinceridade e efetivo compromisso com aquele/a nosso/a irmão/ã que no silêncio cala sua dor, seu desespero, sua angústia pela falta de um pão, um remédio, uma acolhida. E as vítimas da violência doméstica, mulheres e crianças/adolescentes, que aumentaram com as necessárias medidas de isolamento/distanciamento a que estamos submetidos/as.
A Vida hoje nos conclama a sairmos do conforto, do descaso, da indiferença. A vermos o/a outro/a, o/a sem voz e sem vez, o/a silenciado/a, o/a de fora e o/a de dentro. A dor da fome tem nome, endereço, mas nos acostumamos a não enxergá-la, a tratá-la como intrusa. Se pensarmos bem, os/as intrusos/as somos nós, porque com nossa indiferença a cumplicidade com a dor, a miséria, a indigência, nos torna tão intrusos/as quanto os/as que as promovem, com a nossa própria complacência.
Queremos contribuir afirmativamente para o cumprimento das medidas de contenção do contágio pela covid-19. Entendemos que solidariedade não se limita à urgente entrega de donativos, mas à conscientização de que a Vida dos/as mais vulneráveis nos importa muito, e por isso receberão as orientações para se proteger da pandemia e também proteger os seus direitos.
A Vida é mais que direito, é princípio de direitos, como disse Norberto Bobbio. Por meio da educação popular, de atividades da cultura e da ação permanente estaremos contribuindo para que cidadania deixe de ser qualquer palavra e se torne sinônimo de atitude, solidariedade. Não esqueçamos Herbert de Souza, da Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida, que em 1992 nos advertiu: “Não basta dar um prato de comida, é preciso ser cidadão para conferir cidadania ao ser humano excluído.”
Muitos/as de nós estiveram nos movimentos da Constituinte de 1988, na construção do Sistema Único de Saúde (SUS), da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), do Estatuto do Idoso, do Estatuto das Cidades, do Plano Nacional de Políticas Públicas para a Mulher, do Estatuto da Igualdade Racial, das leis de inclusão sociais, educacional, racial e cidadã. Por isso, também, estaremos para defender o controle social dessas políticas públicas, como dever do Estado e direito do cidadão. Nosso compromisso é com a Vida, é com o Estado Democrático de Direito.
Corumbá (MS), 20 de junho de 2020.
Comissão Pró-Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia
Entidades e movimentos que apoiam a formação do Comitê:
Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF)
Sindicato Municipal de Trabalhadores da Educação de Corumbá (SIMTED)
Associação dos Docentes da UFMS – Seção Sindical (ADUFMS)
Federação dos Trabalhadores em Educação de MS (FETEMS)
Arquidiocese de Santa Cruz de Corumbá
Grupo Argos de Teatro
Observatório da Cidadania
Trabalho e Estudo Zumbi (TEZ)
Associação Corumbaense de Pessoas com Doença Falsiforme (ACODFAL)
Marcha Mundial de Mulheres (MMM)
Sindicato Nacional de Servidores de Escolas Federais (SINASEFE)
Movimento Indígena Guató
Trio Aroeira’s
Coletivo Feminista Classista Helieth Saffioti
Instituto de Mulheres Negras (IMNEGRA)
Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM)
(*Com informações de Schabib Hany– Imagem: site Prefeitura de Corumbá)