Crise: Bolsonaro demite Mandetta; para onde vai o governo?

Crise: Bolsonaro demite Mandetta; para onde vai o governo?

Após dias de atrito, ameaças veladas e orientações desencontradas para conter a expansão da contaminação pelo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro finalmente resolveu valer sua autoridade, e o poder da caneta, e demitiu o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Indicado com o aval do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (que já havia publicamente rompido com Bolsonaro por divergência quanto à condução da crise sanitária), Mandetta vinha mantendo à frente do Ministério da Saúde uma postura de alinhamento com as orientações da Organização Mundial de Saúde, que preconiza a quarentena como forma de barrar a rápida expansão da contaminação e dar tempo para que o sistema de saúde possa se adequar para receber uma grande quantidade de possíveis pacientes com quadro agravado.

Embora o ministro mantivesse reiteradas vezes a orientação de quarentena e isolamento social, o presidente age no sentido oposto, promovendo aglomerações, contato físico e pregando a volta ao trabalho, ficando em casa apenas os considerados em grupos de risco. No cálculo do presidente, a crise econômica que pode ser decorrente da quarentena, com interrupção da produção, queda nas vendas do comércio e desemprego em massa são altos demais para justificar uma paralisação mais radical, ainda que de algumas semanas.

Apoiado por grandes empresários e grupos evangélicos fundamentalistas, o presidente passou a adotar uma postura pró ativa contra o isolamento, indo às ruas, mantendo contato direto com seus apoiadores e estimulando manifestações, como ocorreu no dia 15 de março.

Com o desgaste político entre os dois se acentuando a cada dia e após divulgação de pesquisa mostrando que Mandetta tem mais apoio popular que o presidente na forma de condução da crise, Bolsonaro bateu o martelo.

Pesou também a guerra desencadeada pela ala bolsonarista capitaneada pelo seus filhos, particularmente por Carlos Bolsonaro, que lançou desde domingo uma campanha maciça nas redes sociais tirando do armário os “esqueletos” de Mandetta, como as denúncias que pesam sobre este de envolvimento em atos que atentam contra a lisura no trato da coisa pública, quando esteve à frente da secretaria de saúde de Campo Grande (o chamado esquema GISA) e de estar também à frente do lobbie para favorecer empresas privadas da área da saúde em processos licitatórios. O ataque foi cerrado e massivo desde ontem, indicando que a manutenção de Mandetta no cargo se tornara inviável.

Já no dia do jejum convocado em nível nacional pelo presidente com apoio de pastores evangélicos, Bolsonaro foi direto dizendo que tinha gente no governo que antes “era normal”, mas passou a aparecer demais e “falar pelos cotovelos”, e que “a hora dele está chegando”, ao que os apoiadores responderam: “amém”. A hora chegou.

Com a demissão do ministro, Bolsonaro quer afirmar sua autoridade abalada, retomar as rédeas do governo e mostrar quem manda. Ele tem “a caneta”, e portanto o poder de nomear e demitir. Quer mandar o recado de que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

As hostes bolsonaristas radicais, com Carlos Bolsonaro, o Príncipe, saem, em tese, fortalecidas dentro do governo. Resta ver o impacto dessa demissão junto à opinião pública e também como se comportarão os demais ministros, que devem decidir se continuam no governo dizendo “amém” a Bolsonaro, ou abandonam a nau avariada no meio da tempestade.

  Eber Benjamim (Jornalista – editor da Gazeta Trabalhista)

  Foto: Agência Brasil

 

 

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