Opinião: Não basta lavar as mãos, é preciso fazer a transição democrática

Opinião: Não basta lavar as mãos, é preciso fazer a transição democrática

A pandemia da covid-19 precipitou o virulento ocaso de um desgoverno de alucinados/as, como constata o grau de necessidade que neste final de semana tomou conta das hordas de irracionais que se sentem “empoderados” com o sem-noção que diz ser presidente. Cabe às forças políticas sinceramente comprometidas com o Estado Democrático de Direito preparar a transição e evitar a barbárie anunciada.

A virulência com que verdadeiras hordas de alucinados/as tomaram as ruas neste final de semana em seus possantes carros de passeio e utilitários, a lembrar cenas patéticas criadas pela produção hollywoodiana antes da decadência, é o sintomático alerta do ocaso de um desgoverno de fanáticos/as e fantoches unidos/as pelo único propósito de serem “contra” e de “estarem cansados/as” de ver filhos/as de empregados/as domésticos/as e outros/as humildes trabalhadores/as frequentando os mesmos espaços (sobretudo universidades, shoppings e aeroportos) antes reservados para as elites emboloradas, a exalar aromas da casa grande e, sem qualquer dissimulo, da cama da serviçal onde o filho se iniciava “como homem” e o pai se refugiava em suas fantasias proibitivas em uma sociedade de hipócritas.

Mas não é que esses/as senhores/as que padecem do mal do recalque — mal resolvidos/as e mal amados/as que são — não conseguiram sustentar o (sic) “messias” que louvavam orgasticamente, mesmo conhecendo sua esquizofrenia explícita? Daí por que recorrem à prepotência, desesperadamente, na ânsia de prolongar os “últimos dias de Pompeia”, pois sabem que o delírio em que se refugiaram findou, e com ele a dura realidade. Somente isso pode explicar o pandemônio protagonizado pelo “mi(n)to” e suas hordas peçonhentas. O primeiro, na tentativa de proteger a quadrilha doméstica que formou em vez de família; os/as demais porque se recusam a admitir que deram literalmente com o burro na água…

Por tudo isso, não basta lavar as mãos, igual Pilatos, nestes nebulosos tempos de covid-19, eis que temos outra ameaça não menos letal a nos rondar: o desespero dos/as golpistas e cúmplices do estelionato eleitoral, que caíram em suas próprias ciladas, tamanha a sua incompetência individual e coletiva. Na falta de agenda política, projeto de Estado ou um reles plano de governo, em que seja possível acenar para a sociedade com uma tímida, e não temida, ação proativa em vez de reativa ou, pior, do improviso mais deslavado — mas será que entendem o que é “isso tudo”, ou dirão, como de hábito, “coisa de comunistas”? —, é inadiável fortalecer o Estado brasileiro em todas as suas dimensões, sobretudo as institucionais, à luz da Carta Constitucional de 1988.

É hora de que os setores sinceramente comprometidos com a preservação do Estado Democrático de Direito, independentemente do alinhamento político ou ideológico, se articulem para assegurar uma transição urgente, sob pena de nos vermos imersos num estado de barbárie e caos geral, quando não haverá sobreviventes qualificados/as para o soerguimento de um Estado que hoje se encontra textualmente em frangalhos, em que a soberania, nacional e popular, estará à deriva, para o deleite dos abutres do mercado, os/as mesmos/as que apostaram e continuam a apostar contra os interesses da sociedade brasileira, como quando saem às ruas promovendo aglomerações e terror, até como forma de intimidar os mais vulneráveis e manter seu “rebanho humano” sob seu irracional controle.

É urgente que as vaidades sejam coibidas e a generosidade que abunda no seio do laborioso povo brasileiro fomentada, de modo que toda a sociedade organizada seja efetivamente representada. Assim, sem delongas, será preciso construir uma efetiva agenda inclusiva, em que todos os segmentos sociais e econômicos sejam protagonistas. Mais que estratégia, trata-se de uma (única) saída civilizada para assegurar sobrevida em condições racionais para uma nação cujo funcionário público número um se sente proprietário de um estábulo, não estadista de uma nação democrática, e com o maior desplante insiste em incursionar na contramão da História, da Ciência e, inclusive, da Política (todas com letras maiúsculas) por não ter condições intelectuais e razoabilidade para liderar o país num momento de crise extrema, em que a Vida, e somente a Vida, tem que ser prioridade, até por se tratar de, nas palavras de Norberto Bobbio, “princípio de direito”.

Ahmad Schabib Hany

*Os artigos assinados refletem a opinião do seu autor

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    Schabib Hany 4 anos

    Boa tarde, Companheiro Eber!

    Agradeço, de coração e muito honrado, pela gentileza de publicar em seu portal jornalístico Gazeta Trabalhista minha tentativa de reflexão pretensamente coletiva sobre estes alucinados momentos que a História nos proporcionam depois da “eleição” de um psicopata para dirigir os destinos de uma nação, que, a bem da verdade, não merecia este trágico destino.
    Grande abraço, e cuide(m)-se, que a “minoria” (como eles/as nos chamam) é necessária e fundamental para o processo de construção do país depois do tsunami duplo, da pandemia e dos delírios do “messias” (minúsculo como a sua personalidade) e de suas hordas de feribundos/as alucinados/as…
    Fraternalmente,
    Schabib

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