Câmara aprova projeto que autoriza SUS a aplicar remédios com indicação diferente da recomendada pela Anvisa
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (23) o projeto que permite ao Sistema Único de Saúde (SUS) receitar e aplicar remédios com indicação de uso diferente da aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se isso for recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). A proposta (PL 1613/21), de autoria do Senado Federal, será enviada à sanção presidencial.
O texto-base do projeto foi aprovado pelos deputados em dezembro do ano passado. Na sessão de hoje, o Plenário da Câmara concluiu a votação após rejeitar todos os destaques apresentados pelos partidos na tentativa de retirar trechos do texto.
De acordo com o projeto, devem ser demonstradas as evidências científicas sobre a eficácia, a efetividade e a segurança do medicamento para o novo uso, com padronização em protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde.
Fica liberado ainda o uso de medicamento ou produto recomendados pela comissão e comprados por meio de organismos multilaterais internacionais, como a Organização Panamericana de Saúde (Opas), para uso em programas de saúde pública do ministério e de suas entidades vinculadas.
Competência técnica
Em relação ao processo administrativo necessário para incorporar determinado medicamento ou procedimento pelo SUS, o projeto determina que a distribuição para a relatoria deverá ser aleatória e respeitar a especialização e a competência técnica requeridas para a análise da matéria, devendo ser dada publicidade dos atos processuais.
Avaliação econômica
Quanto à avaliação econômica da inclusão do medicamento ou procedimento no âmbito do SUS, que precisa ser comparativa com os benefícios e custos das tecnologias já incorporadas, o projeto determina que as metodologias empregadas deverão constar em regulamento e ser amplamente divulgadas, inclusive em relação aos indicadores e parâmetros de custo-efetividade utilizados em combinação com outros critérios.
Pontos rejeitados
Nesta quarta-feira, foram rejeitados todos os destaques apresentados pelos partidos:
– destaque do Podemos pretendia retirar do projeto a determinação de que metodologias de análise da vantagem econômica do medicamento constem de regulamento;
– destaque do PT pretendia excluir a possibilidade de o SUS receitar e aplicar remédios com indicação de uso diferente da aprovada pela Anvisa, assim como de comprar de organismos multilaterais medicamento recomendado pela Conitec.
Outros dois destaques do PT trataram em separado dessas duas autorizações: medicamentos com indicação diversa de uso e compra internacional de medicamentos.
Deputados afirmam que projeto sobre medicamentos esvazia poderes da Anvisa
Parlamentares de diversos partidos criticaram ponto do Projeto de Lei 1613/21, do Senado Federal, que permite ao Sistema Único de Saúde (SUS) receitar e aplicar remédios com indicação de uso diferente da aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas com aval da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). O texto aprovado vai à sanção presidencial.
A líder do Psol, deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), disse que a proposta afronta as competências da Anvisa. “O projeto significa a flexibilização, a não necessidade de autorização por parte da Anvisa para liberação de medicamentos, deixando a possibilidade de somente a Conitec avaliar”, criticou.
O deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) também criticou este ponto por considerar que a Anvisa é o órgão técnico responsável pela liberação de medicamentos. “Por que nós vamos retirar esta atribuição da Anvisa, que é olhar os medicamentos e aprovar com mais segurança?”, questionou.
Para ele, os críticos são adeptos do “quanto pior melhor” e o Congresso deve agir para que as pessoas doentes recebam todo o atendimento necessário, “na ciência ou fora dela”.
Cloroquina
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) afirmou que, se a proposta estivesse em vigor, a cloroquina estaria sendo distribuída nos hospitais públicos.
“O projeto tem um cavalo de troia que visa impor ao SUS a aquisição de medicamentos não eficazes”, disse o deputado Afonso Florence (PT-BA).
A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) também criticou a medida. “Nós muitas vezes fazemos críticas à demora na conclusão dos processos, mas também não achamos correto retirar a opinião da Anvisa, nosso órgão técnico de aprovação”, disse.
O deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE) afirmou que a proposta é uma iniciativa de “perseguição” aos técnicos da agência reguladora.
(Fonte: Agência Câmara de Notícias – Foto: Agência Brasil)