Entre Territórios: exposição coletiva é uma das atrações na reabertura do Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul
O Museu de Arte Contemporânea será reaberto nesta quarta-feira (23), às 19 horas, com uma exposição coletiva. As obras ficarão expostas até o dia 5 de junho. Participam da coletiva Patrícia Pontes (SP), Mariana Arndt ((MS) Aerlete Santa Rosa (RS) e o Coletivo Entre Territórios.
Num planeta cada vez mais “globalizado”, eles são a própria encarnação dessa globalização étnico-cultural. Frutos da interconexão de povos e culturas vão produzindo sua arte sob o impacto das experiências vividas nesse caminhada de “estrangeiros pelo mundo”.
A proposta da exposição coletiva “Entre Territórios” remete a essas experiências de quatro artistas plásticos radicados em Mato Grosso do Sul, com origem diversas. Maria Angélica Chiang é sino-argentina, Julian Vargas e Miguel Benavides são colombianos, enquanto Poppy Carpio é venezuelano. De distintos lugares da América do Sul, se encontraram no território sul-mato-grossense tendo como elo as artes plásticas.
Cada um a seu modo e com suas habilidades, com o seu fazer individualizado e único, expressam em suas obras um pouco de suas vivências, através de técnicas distintas.
Sobre a proposta da exposição diz Maria Chiang que “a gente refletiu sobre se perceber a partir de um “não lugar”, ou a gente como estrangeiro, fazendo um paralelo com o exercício em arte que é como visitar lugares desconhecidos mas que por onde nos conectamos também”.
Abaixo uma amostra de algumas obras do grupo que estarão expostas na reabertura do Marco.
A exposição por eles mesmos
“Entre-territórios” nasce do encontro de quatro fazeres artísticos vindos de distintos limites geopolíticos – Argentina, Colômbia e Venezuela – que se reconhecem na coincidência de serem caminhantes na geografia brasileira; ditos assim, estrangeiros. Nessa postura, emerge a noção de território¹ no sentido amplo, como um fazer contínuo do processo de encontros, instantes e afetos. Os artistas, sendo moradores no seio de outra cultura, experimentam após a migração, um aumento em amplitude do que podemos entender como um processo de desterritorialização e reterritorialização. Desse encontro, surgem questionamentos em torno dos porquês que poderiam justificar unir seus percursos artísticos num compartilhar em conjunto. Ainda que reconhecendo-se sobre o mesmo lugar do ser estrangeiro, é de acordo com as singularidades de um a um dos caminhos por eles trilhados até aqui, que se desenham as maneiras várias de como tecem relações com tal condição.
A essa altura, já não importa demarcar a finco o lugar distante de onde partiu cada um dos quatro, se não, o caminho tomado enquanto potência por onde se combinam possibilidades várias à várias outras possibilidades; movimento incessante do criar.
Assim, transitando por entremeio a percursos vários, Julián Vargas (Colômbia), apresenta pinturas com temáticas de transculturalidade e miscigenação, trazendo simbologias de elementos Muíscas, indígenas de Centro América e florestas colombo-brasileiras. Miguel Benavides (Colômbia), expõe fotografias de paisagens da Guajira colombiana e de etnias dessa região. Poppy Carpio (Venezuela), traz colagens digitais por onde aborda seu universo íntimo com foco no gênero enquanto um espectro vasto que ultrapassa o sentido binário homem e mulher. Maria Angélica Chiang (Argentina), compartilha fragmentos vários de sua produção que não necessariamente tem linearidade estabelecida, a priori são convites, pequenos afectos à espera de um inesperado encontro.
As obras compartilhadas colocam-se sem a pretensão dos significados formatados, seguem um pensamento que aponta abrir ao invés de fechar, pontos ligados aos pontos todos, múltiplas conexões, onde, uma não se opõe à outra, toma-se ao inverso, muda de sentido, se transforma e transforma a lógica estabelecida, múltiplas linhas de fuga que apontam um pensar de maneira criativa.
Julián Danilo Vargas Cubillos possui graduação em Arquitetura pela Universidade de Bogotá Jorge Tadeo Lozano (UJTL, 2012) em Bogotá, Colômbia. Especialista em Abordagens contemporâneas na arquitetura e na cidade pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS, 2016) e Mestre em Estudos de Linguagens na mesma universidade (UFMS, 2018). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo e atualmente desenvolve diversos projetos interartes entre pintura, arquitetura e música.
Maria Angélica Chiang (Buenos Aires/ Argentina, 1990) permeia por entre as várias linguagens abordadas dentro das artes visuais, com ênfase em gravura e desenho. É graduada no Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2018).
Miguel Angel Benavides possui graduação em Artes Visuais pela Universidade Pedagógica Nacional de Colômbia (UPN, 2015) em Bogotá, Colômbia. Mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS, 2018). Doutorando em Estudos de Linguagens pela mesma universidade (2019). Tem experiência na área de Docência em Artes e atualmente desenvolve diversos projetos de pesquisa interartes entre pintura, vídeo, fotografia e cinema.
Poppy Hoogesteijn Carpio (Valencia, Venezuela, 1998) bacharel em Artes Visuais na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2019). Trabalha com as várias linguagens dentro das Artes Visuais, com ênfase em desenho, pintura e a arte digital. Tem como temática central em seus trabalhos representar o universo vasto do gênero, que transpassa o sistema binário; masculino e feminino.
(Eber Benjamim)
Saudade é sentimento comum entre quem não vê a hora de ver o Marco reaberto
Saudade é um sentimento comum em quem coloca o Museu de Arte Contemporânea (Marco) para funcionar. Considerado um dos principais espaços culturais de Mato Grosso do Sul, o local está fechado para o público desde 2020, por causa da pandemia de coronavírus e, nesse mesmo período, teve que ser interditado por problemas no telhado.
“A gente então teve que sair do prédio”, recorda a coordenadora do Marco, Lúcia Monte Serrat. Ela conta que, por conta de fortes chuvas, parte do teto do auditório foi danificada. Para solucionar o problema, o Governo do Estado investiu R$ 130 mil, recurso que também foi usado para renovar a pintura interna do espaço, por meio do programa “Retomada MS”, para garantir a volta com segurança das atividades no local.
Durante o período em que o museu ficou fechado, a coordenação teve de se reinventar realizando, principalmente, atividades on-line. Há seis meses, a administração retornou ao museu. “Voltamos para o prédio há seis meses, ocupando o subsolo e começamos a fazer limpezas em obras, deixando tudo em ordem”, contou a coordenadora.
A expectativa de Lúcia em ver o museu movimentado novamente é grande e o retorno das atividades já tem data marcada: 23 de março de 2022. O que a coordenadora tem mais saudade é da movimentação de crianças, das caravanas das escolas públicas e privadas de Campo Grande. “Sempre digo que lugar de criança é no museu. A criança que tem essa possibilidade de conviver com o museu tem um processo de criação de cultura muito maior do que as outras, e o museu está aberto para isso. A gente está morrendo de saudade desse movimento, de ter gente”, contou.
Ainda não há previsão para que as caravanas de alunos voltem a visitar o museu, mas para o evento de retorno haverá a exposição com artistas selecionados em edital de 2020: Patrícia Pontes, de São Paulo, Mariana Arndt, de Mato Grosso do Sul, Arlete Santa Rosa, do Rio Grande do Sul e o Coletivo Entre-Territórios com Maria Angélica Chiang, Julian Vargas, Miguel Benavides e Poppy Carpio. A exposição não pôde ser realizada também por conta da pandemia. “É uma alegria poder voltar”, afirmou a coordenadora.
Mais conforto – Para o conforto de quem visita o Marco, ou mesmo o Parque das Nações Indígenas, o estacionamento ao lado do museu foi completamente revitalizado. Com investimento de R$ 803.438,64, o espaço ainda ganhou escadaria e rampa por causa do desnível entre o estacionamento e a calçada, na altura do ponto de ônibus.
(Joilson Francelino – Fotos: Bruno Rezende)