Fracassa o “megaleilão” do petróleo
O esperado leilão de blocos de exploração de petróleo do pré-sal no Brasil, feito nesta manhã (6), pode ser considera um fracasso. Para o mercado, o leilão seria uma mostra do “apetite” dos investidores no Brasil. Se o leilão for um parâmetro para esse apetite então os investidores não estão com muita fome de Brasil. Pelo menos não no petróleo.
Num contexto de reformas trabalhista e da previdência aprovadas, ao que se junto o plano econômico “revolucionário”, apresentado por Gudes e Bolsonaro ontem no Senado, o “megaleilão” do petróleo foi preparado para ser o ícone de uma nova era de abertura do país ao investimento externo. Dessa ótica foi um fracasso completo.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o governo esperava arrecadar 106,5 bilhões de reais, arrecadou 69,9 bilhões, ou 65,63% do esperado. E parte considerável desse aporte veio da própria Petrobras, não significando portanto entrada de capital externo. Outra parte, bem pequena, vem dos chineses, que arremataram junto com a Petrobras o primeiro e maior bloco de exploração ofertado, o de Búzios, por 68,194 bilhões.
A Petrobras arrematou sozinha um segundo lote colocado à venda, o de Itapu, por 1,766 bilhão. E por fim, os dois outros blocos ficaram sem lances. Ninguém quis arrematar. Não foi propriamente um bom resultado financeiro (ficou bem abaixo do mínimo esperado) e nem mostrou o “apetite” dos investidores internacionais, o que não foi um bom sinal.
Sem concorrência e com falta de apetite dos investidores, a Petrobras ficou praticamente só no leilão, não fosse a pequena participação dos chineses, com quem a Petrobras formou um consórcio com participação de 90% para levar o bloco de Búzios, o maior do leilão. As estatais chinesas CNODC e CNOOC tiveram participação de 5% cada uma no consórcio.
Além da instabilidade política que o país vive no momento, quando se juntam vários fatores entre eles a possibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) tomar uma resolução que pode libertar Lula e as graves denúncias de envolvimento da família do presidente Jair Bolsonaro no assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, temos os números da economia mostrando uma reação ainda tímida (o PIB, Produto Interno Bruto, não deve passar de 1% este ano). Isso apesar de todas as medidas aprovadas, que vão da reforma trabalhista, ainda na gestão de Michel Temer, à reforma da previdência, aprovada agora.
Outro fator que pode ter pesado no sumiço de investidores foi anúncio da Saudi Aramco (estatal do petróleo da Arábia Saudita) que pouco antes do leilão da Petrobras, esperta e estrategicamente, divulgou a abertura de seu capital na bolsa de valores. Muitos investidores devem estar considerando mais atrativo investir lá, pois se trata da maior produtora de petróleo do planeta, do que aqui.
O general Heleno deu uma declaração sobre Guedes, se referindo à reforma da previdência, que ele é um grande vendedor, capaz de vender de tudo. A julgar pelo leilão do petróleo parece não ser bem assim. A conferir a evolução dos números durante o decorrer do dia para ver como o mercado absorveu o resultado do megaleilão, que murchou um pouco.
Eber Benjamim / Gazeta Trabalhista – Foto: divulgação Petrobras