Estado brasileiro se omite de proteger indígenas; líder indígena Sonia Guajajara e o fotógrafo Sebastião Salgado dizem que pandemia amplia a discriminação e violência

Estado brasileiro se omite de proteger indígenas; líder indígena Sonia Guajajara e o fotógrafo Sebastião Salgado dizem que pandemia amplia a discriminação e violência

A líder indígena Sonia Guajajara e o fotógrafo Sebastião Salgado dizem que pandemia amplia a discriminação e violência contra os povos indígenas

A líder indígena Sonia Guajajara e o fotógrafo Sebastião Salgado culpam o Estado brasileiro pela omissão na proteção dos povos indígenas diante da covid-19, que pode levar a um genocídio de grandes proporções. Para ambos, a pandemia do coronavírus também reforça e amplifica a discriminação e a violência que historicamente os povos indígenas do Brasil sofrem. E o Estado brasileiro tem responsabilidades em relação a isso.

“A definição de genocídio é o extermínio de uma etnia e sua cultura. E é isso que estamos vendo em relação aos povos indígenas”, afirmou Sebastião Salgado em live realizada pela Oxfam Brasil no YouTube nesta quinta-feira (18), ao lado da líder indígena com o tema “Desigualdades: Povos Indígenas frente à Pandemia”.

Ambos criaram uma uma campanha com apoio de diversas celebridades brasileiras e internacionais em defesa dos povos indígenas frente à pandemia. “É de conhecimento do Executivo brasileiro essa fragilidade dos indígenas brasileiros em relação a doenças que vêm de fora de suas comunidades, como o coronavírus. E temos um governo que incentiva a violação das comunidades indígenas. Essa situação fica ainda mais grave neste momento de pandemia. Então essas autoridades do Executivo brasileiro são responsáveis. Se houver um genocídio, elas têm que ser julgadas, têm que ser responsáveis pelo que está acontecendo.”

Para Sonia Guajajara, a pandemia do coronavírus reforça todas as outras situações de desigualdade e violência que os indígenas sofrem historicamente no país. Apesar de todas as ameaças que vêm de madeireiros, garimpeiros e fazendeiros, o governo nada faz para protegê-los. “As práticas violentas de colonização dos indígenas ainda estão muito presentes. A pandemia ameaça de forma ainda mais violenta os povos indígenas, porque não temos nesse momento apenas o vírus nos matando. Temos o próprio Estado brasileiro que, com sua omissão, autoriza ou legaliza um novo genocídio.”

Sonia Guajajara afirmou que uma forma de proteger os povos indígenas seria demarcar territórios, porque a maioria ainda não tem seu lugar. Ela lembrou que dos 13% do país que são hoje territórios indígenas, cerca de 98% fica na Amazônia brasileira. No restante do país, os indígenas ainda lutam por suas terras. “Mas mesmo com territórios demarcados, todos sofrem com invasões de madeireiros, garimpeiros e grileiros, que destroem a terra e degradam o meio ambiente.”

A pandemia de coronavírus já matou 294 e contaminou 5.613 indígenas em todo o país, atingindo 103 dos 305 povos existentes no Brasil, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual Sonia Guajajara é coordenadora. A maior parte dos mortos (139) foi na região amazônica.

Entre as vítimas, diversas lideranças indígenas, como Paulinho Paiakan, morto na quarta-feira (17) depois de passar 10 dias internado com covid-19.

“O próprio Estado brasileiro está contribuindo para levar o coronavírus para dentro dos territórios indígenas. São militares, médicos e servidores da Funai que não estão tomando os devidos cuidados ao entrarem nos territórios”, afirma Sonia. “Como fazer para evitar mais mortes, diante de um Estado que é omisso e está com o genocídio institucionalizado?”

Confira a live:

 

 

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