Estudo demonstra a importância da vegetação ribeirinha
Professor do curso de Ciências Biológicas do CPTL/UFMS participou da pesquisa desenvolvida em parceria com cientistas de 32 países
Um experimento conduzido por mais de 40 equipes de pesquisa em todo o mundo, demonstrou a importância da diversidade da vegetação ribeirinha para a decomposição da serapilheira em ecossistemas aquáticos. “O estudo ressalta que este efeito de diversidade é ainda mais forte em riachos tropicais do que em latitudes mais altas”, explica o professor do curso de Ciências Biológicas do Campus de Três Lagoas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CPTL) Luiz Ubiratan Hepp.
Luiz é um dos 67 pesquisadores de 32 países que conduziram os trabalhos de pesquisa. “O convite para a pesquisa surgiu por conta da cooperação de longa data que tenho com alguns pesquisadores portugueses e espanhóis, especialmente com a Luz Boyero, da Universidade do País Basco. São projetos que acontecem há muitos anos e terão continuidade por mais alguns”, conta o professor.
Serapilheira é a camada superficial do solo de florestas e bosques, feita de folhas, ramos, em decomposição, misturados à terra. De acordo com o pesquisador, a decomposição da serapilheira é um processo crucial em ecossistemas aquáticos e desempenha um papel fundamental na troca de carbono entre a biosfera e a atmosfera, implicando em feedbacks potenciais sobre o clima.
“O estudo coordenado globalmente, identifica a diversidade de plantas como uma grande influência na decomposição da serapilheira, mostrando que a alta diversidade funcional da serapilheira (por exemplo, em dureza, teor de nutrientes, presença de toxinas) estimula a decomposição mais em latitudes baixas do que em climas mais frios, onde os consumidores usaram os diversos recursos com menos eficiência do que nos trópicos. Isso sugere que o funcionamento dos ecossistemas aquáticos pode ser particularmente vulnerável às práticas florestais que são prejudiciais às florestas tropicais nativas”, relata Luiz.
O professor explica que no contexto da pesquisa, foi avaliada a importância da serapilheira como fonte de energia em ambientes aquáticos, sobretudo, relacionanda à decomposição desse material com o ciclo do carbono. “A organização geral dos estudos foi da Universidade do País Basco, que enviou material para que os parceiros realizassem o experimento em seus locais. Na sequência, cada local desenvolveu o experimento para coleta de dados. E no final todos participaram da análise e discussão dos mesmos. Foram aproximadamente 18 meses de pesquisa”, fala.
Sobre os ambientes do estudo, o pesquisador explicou que tratam-se de pequenos riachos e córregos. “Esses ambientes dependem muito da vegetação ripária para ‘funcionarem’ adequadamente. São importantes pois prestam inúmeros serviços ecossistêmicos e tem relações diretas ao abastecimento de agua, manutenção da diversidade, entre outras funções. O principal resultado está ligado a importância da diversidade vegetal, que, se for reduzida, irá afetar o processamento de material orgânico e influenciar no funcionamento e biodiversidade desses riachos e córregos”, enfatiza.
Luiz ingressou no corpo docente do CPTL em dezembro de 2020. “Vim do Rio Grande do Sul e estou trazendo para a UFMS minha rede de cooperações nacionais e internacionais. Este trabalho faz parte do projeto de bolsa produtividade CNPq que tenho institucionalizado aqui na Universidade que aborda sobre funcionamento de riachos e serviços ecossistêmicos em zonas ripárias”, explica. O professor comenta que já estão em andamento dois processos para formalizar cooperações com instituições nacionais junto a Agência de Internacionalização e de Inovação (Aginova) e, muito em breve, iniciará a formalização de processos de cooperação internacional.
“Estudos em escala global são importantes para a compreensão dos padrões e processos ecossistêmicos, num momento em que o planeta passa por mudanças climáticas. Essas pesquisas promovem a geração de conhecimento sobre os efeitos antrópicos sobre o meio ambiente em diferentes escalas, facilitando assim, a elaboração de estratégias mais seguras para a recuperação, proteção e gestão dos recursos hídricos. Ainda, as cooperações institucionais demonstram o potencial e importância da UFMS no desenvolvimento de pesquisas, o que refletem diretamente na sociedade, a partir da formação de recursos humanos qualificados e atentos às demandas ambientais atuais”, finaliza.
Os resultados da pesquisa foram publicados, recentemente, em artigo na Science Advances e podem ser conferidos aqui.
Texto: Vanessa Amin – Fotos: Luz Boyero e Silvia Milesi.
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