Não ao Passaporte da Vacina: depois dos recuos pós 7 de setembro, bolsonaristas mudam pauta para manter sua base

Não ao Passaporte da Vacina: depois dos recuos pós 7 de setembro, bolsonaristas mudam pauta para manter sua base

Para alguns setores radicais de direita do bolsonarismo o pós 7 setembro tem sido de reorientação da pauta para tentar manter suas “bases” ativas. Sai o “Fora STF”, “Fecha Congresso”, e “Estado de Sítio”. A bandeira do momento é “Não ao Passaporte da Vacina”.

O Passaporte da Vacina é a exigência de comprovação de vacinação contra a covid para se ter acesso em eventos, comércio, órgãos públicos e outros espaços de uso coletivo. Trata-se de uma medida que coloca o interesse coletivo e social acima do individual. Projetos de lei sobre o assunto, a favor e contra, tramitam hoje nas Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas de todo país.

Entre os argumentos contra o Passaporte da Vacina estão a ineficácia da imunização, o pouco tempo de pesquisa, o direito individual de tomar ou não e até teorias conspiratórias malucas como a de que a vacina tem um chip chinês que é colocado na pessoa, ou que ela muda o DNA humano.

A volta dessa questão como o centro das ações dos bolsonaristas tem uma das suas causas no fracasso do 7 de setembro. O 7 de setembro, para essa turma, foi marcado como uma espécie de data apocalíptica onde haveria uma mudança radical na situação política do país: os membros do Supremo Tribunal Federal seriam afastados, o Congresso Nacional fechado e seria instalado um “estado de sítio” no Brasil.  Pelas narrativas das convocatórias dos atos pró-golpe, amanheceríamos no dia 8 de setembro num novo Brasil, com o Bolsonaro tendo plenos poderes ditatoriais e governando ao seu bel prazer.

Não foi o que se viu. Os atos, turbinados com farto dinheiro e mobilização de apoiadores para Brasília e São Paulo, bem como deslocamento das cidades do interior para as capitais para inflarem a participação, ficou aquém do esperado. Bolsonaro falou grosso nos seus discursos. Jurou não respeitar mais as decisões do Judiciário e atacou duramente, inclusive com o epíteto de “canalha”, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o Luís Barroso. Na sequência dos atos ainda tentaram forçar a invasão do STF e uma falsa paralisação de caminhoneiros, colocando caminhões de empresas ligadas ao agronegócio para bloquear estradas em diversos pontos do país. Sem respaldo dos caminhoneiros o movimento fracassou.

Logo em seguida Bolsanaro recuou dos ataques ao STF dizendo que foi tudo afirmado no “calor do momento” dos discursos, mandou buscar o Michel Temer para ajudá-lo a sair da crise, divulgou uma carta à nação com desculpas públicas à Moraes e Barroso, prometeu respeitar a Constituição e a democracia. Entre o dia 7 e o dia 9 de setembro, dois Bolsonaros se apresentaram à nação. O recuo foi um jorro de água fria nos “radicais”, que reagiram entre a indignação, sentindo-se traídos, e a compreensão (é tudo “estratégia”).

Com rupturas ocorrendo em sua base radical, o bolsonarismo precisa encontrar rapidamente novas narrativas e novas frentes de ação para tentar segurar o que sobrou do pós 7 de setembro. Daí voltarem a colocar no centro do debate o “não ao passaporte sanitário”, sua nova frente de combate.

E quais setores estão hoje na “linha de frente” do bolsonarismo radical? São vários, entre eles os defensores do armamentismo (financiados como não podia deixar de ser pela indústria de armas),  do agronegócio que avança sobre terras indígenas e florestas ainda não derrubadas e reservas ambientais e os evangélicos arregimentados por gente com Silas Malafaia e o “bispo” Hernandes (aquele que foi preso nos Estados Unidos com dólares escondidos numa falsa Bíblia, junto com a esposa, a “bispa” Sônia).

Eber Benjamim – Jornalista e acadêmico de Filosofia (UFMS)

(Foto: Tânia Rêgo – Agência Brasil)

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