Bolsonaro caminha por Brasília, promove aglomerações e desmoraliza Mandetta; mortes por coronavírus chegam a 136 no Brasil
Atitude do presidente vai na contramão do apelo do ministro da Saúde pelo recolhimento
No momento em que encontra-se em expansão o contágio pelo coronavírus no país, o presidente Jair Bolsonaro fez hoje um passeio por Brasília, onde cumprimentou comerciantes, promoveu aglomerações e voltou a defender o fim da quarentena que vem sendo implementada por prefeitos e governadores.
O presidente afirmou também que pode baixar um decreto federal para liberar todas as atividades, tornando sem efeito as medidas dos estados e municípios, e voltou a defender que devem ficar em casa apenas as pessoas acima de 65 anos. Detalhe, o presidente tem 65 anos.
A atitude do presidente foi na contramão de tudo que foi recomendado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que em entrevista coletiva ontem (28) voltou a defender enfaticamente a necessidade da quarentena para frear a expansão do contágio e evitar que o sistema de saúde fique sobrecarregado daqui algumas semanas, quando devem se manifestar os casos de contágio que estão acontecendo agora.
Desmoralização de Mandetta
De imediato, o passeio do presidente significa o aprofundamento da desmoralização do ministro da Saúde, que ontem afirmou que fica no governo até o presidente permitir. Mandetta disse que vai continuar pautando as ações da Saúde por critérios técnicos, mas criticou a imprensa, chamando-a de sórdida, no que soou como um “agrado” ao presidente.
O ministro da Saúde não se manifestou sobre a atitude do presidente. Mas o que é certo é que está sendo “fritado”, e ação deliberada de Bolsonaro pode ser um sinal de pedido para que ele entregue a carta de demissão.
Com processos na Justiça da época em que foi secretário de Saúde em Campo Grande (MS), e sem mandato, Mandetta está entre a cruz e a espada: manter coerência com o que é defendido pela Organização Mundial de Saúde – e ser demitido – ou render-se à irracionalidade do bolsonarismo e ficar no cargo.
Número de mortes no país sobe para 136
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro fazia o seu “rolê”, contrariando todas as orientações do ministério da Saúde, foi divulgada uma nova atualização dos dados sobre o novo coronavírus (covid-19), no Brasil. O número de mortes chegou a 136. São 22 a mais do que o número anunciado pela pasta nesse sábado (28), quando foram registrados 114 óbitos.
São Paulo concentra 98 do total de mortes, seguido por Rio de Janeiro (17), Ceará (cinco) e Pernambuco (cinco), Paraná (dois), Rio Grande do Sul (dois), Santa Catarina (um), Goiás (um), Distrito Federal (um), Rio Grande do Norte (um), Piauí (um) e Amazonas (um). Com 22 novas mortes, foi o maior resultado diário registrado desde o início, juntamente com o de ontem, que teve o mesmo número.
Em relação ao perfil das pessoas que morreram, 39,2% eram mulheres e 60,8%, homens. Mantendo o padrão identificado ao longo da semana, 90% tinham mais de 60 anos e as doenças crônicas mais associadas foram cardiopatias, diabetes, pneumopatia e condições neurológicas.
Os casos confirmados da doença aumentaram de 3.904 para 4.256. O resultado de mais 352 pessoas infectadas marcou um crescimento de 9% em relação ao total de ontem. O total, contudo, foi menor do que o registrado em dias anteriores, quando os novos casos ficaram entre 482 e 502.
Em entrevistas à imprensa, durante a semana, a equipe do Ministério da Saúde afirmou que era esperado um crescimento diário de até 33%. Em comparação com o início da semana, quando havia 1.891 casos, o total representa uma ampliação de 225%.
Os estados com mais casos foram São Paulo (1.406), Rio de Janeiro (558), Ceará (314), Distrito Federal (260) e Minas Gerais (205). A menor incidência está em estados da Região Norte, como Amapá (quatro), Rondônia (seis), Tocantins (nove) e Amazonas (14).
O índice de letalidade, que começou a semana abaixo de 2%, atingiu 3,2% com o balanço de hoje. Na distribuição por estados, os mais altos são em São Paulo (6,8%), Pernambuco (6,8%), Rio de Janeiro (2,4%), Goiás (1,7%) e Rio Grande do Norte (1,5%). O número de hospitalizações em razão do novo coronavírus chegou a 625.
Em todo o mundo, o painel de monitoramento da Organização Mundial da Saúde (OMS) registra hoje 638. 461 mil casos e 30.105 mil óbitos, em 202 países. Os Estados Unidos são o país com mais casos confirmados (103.321), seguidos por Itália (94.472), China (82.356), Espanha (72.248) e Alemanha (52.547).
Com informações da Agência Brasil – Foto: Isac Nóbrega/PR