Importadores de pneus rebatem informações divulgadas por associação de fabricantes nacionais e defendem qualidade do produto
Para pressionar o governo a frear importações de pneus, fabricantes nacionais utilizam argumentos absurdos, avaliam importadores.
A entidade que representa os importadores de pneus (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus – Abidip) está desmentindo notícias que estão sendo propagadas pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip).
A intenção declarada pela Anip, segundo os importadores, é que o governo federal restabeleça a alíquota do imposto de importação de 16% para cinco medidas de pneus de caminhão, que foi zerada no início de 2021 na tentativa de conter o aumento dos custos do transporte de cargas.
Para pressionar o governo a restabelecer a alíquota, a direção da Anip vem fazendo manifestações na imprensa atacando a qualidade do pneu importado e procurando estabelecer um vínculo de causa e efeito entre a estagnação das vendas do pneu nacional em 2022 com suposto excesso de importação.
“Uma das inverdades que infelizmente vem sendo replicadas por alguns veículos é de que o pneu de carga importado tem qualidade inferior ao nacional, e que permitiria menos reformas (recapagens), em prejuízo do caminhoneiro”, esclarece o presidente da Abidip, Ricardo Alípio. Ele alerta que esta notícia falsa tem sido veiculada sempre desacompanhada de respaldo do segmento de reforma de pneus.
Alípio explica que, tanto os pneus nacionais como os importados, passam pelos mesmos testes de qualidade, capacidade de carga e durabilidade sendo certificados pela mesma Portaria Inmetro nº 379, de 14 de setembro de 2021.
“As importações são precedidas de verificações in loco nas fábricas de origem por técnicos do Inmetro e os ensaios laboratoriais para cada família de pneu por empresas certificadoras acreditadas pela autarquia federal”, explicou o representante dos importadores.
Ele lembrou que vários pneus importados são utilizados por montadoras de caminhões e de reboques, tanto no Brasil como no exterior. “Chega a ser infantil sugerir que apenas os fabricantes de pneus instalados no Brasil têm capacidade técnica para produzir com qualidade, como se o Brasil fosse o centro do mundo em tecnologia de pneus”.
Verificação na ponta
Quem atua diretamente na reforma de pneus também discorda do argumento da Anip de que o pneu nacional de caminhão permite até três reformas, enquanto o importado apenas uma, ou nenhuma.
Fabricio Margreiter, proprietário do Grupo Pantanal Pneus, que trabalha há mais de 20 anos com recapagem na região centro-oeste do Brasil, explica que a maioria dos pneus permite um recape ou no máximo dois.
Ele citou como exemplo o pneu mais utilizado no transporte de cargas brasileiro, o 295/80R22,5. “O que conta não é a nacionalidade do pneu, e sim, a quantidade de material empregado na fabricação. Um pneu bom (dessa medida) precisa ter no mínimo 60kg, já os ruins, às vezes têm 55kg ou até 53kg – são os chamados ‘pneus de combate’, que inclusive são vendidos pela própria indústria nacional. São mais estreitos e duram menos”, explicou o reformador.
Segundo ele, os pneus 295/80R22,5 importados pesam os mesmos 60kg da primeira linha do produto nacional “O pneu de caminhão tem alto valor agregado, o seu desgaste é acompanhado desde o início até o final da vida útil pela transportadora, ou pelo caminhoneiro. Então a gente percebe que o importador vem prezando por manter a clientela com qualidade. Normalmente as marcas importadas rodam cerca de 140 mil quilômetros e mais 140 mil após a reforma, exatamente a mesma durabilidade dos nacionais de primeira linha”, completou.
Bode expiatório
A Anip divulgou recentemente relatório sobre as vendas de pneus de carga da indústria nacional em 2022 que totalizaram 7,4 milhões de unidades comercializadas, ficando 6,5%, abaixo das vendas em 2021. A entidade responsabilizou a alíquota zero e o aumento das importações pelo recuo nas vendas da indústria nacional.
Para o representante dos importadores “esta é uma ilação simplista e tendenciosa que oculta uma série de fatores de grande impacto para a indústria em 2022. Procura manipular o governo federal para frear importações e manter o mercado cativo e concentrado em poucas marcas multinacionais, suscetível à cartelização”, afirmou Alípio.
Desabastecimento forçou importações
A partir de 2020, com a disparada da cotação do dólar, a indústria nacional elevou exponencialmente suas exportações – aumentou 32% de janeiro de 2020 para dezembro de 2022 -, o que deixou o mercado nacional de pneus de carga desabastecido, forçando o aumento das importações. Como foi amplamente noticiado na época, algumas montadoras de caminhões e de reboques passaram a fazer importação direta para suprir suas linhas de montagem.
Primeiro ano de alíquota zero
A decisão que zerou o imposto de importação foi tomada em janeiro de 2021 e mesmo assim as vendas de pneus de carga nacionais registraram crescimento de 10,6% naquele ano. “Ao menos no primeiro ano de alíquota zero os números mostram que a indústria pneumática nacional não foi prejudicada”, avaliou o representante dos importadores.
Multiplicidade de fatores
Em 2022, uma série de fatores externos e internos provocaram retração em diversos setores da indústria. De acordo com relatórios da CNI, incertezas com a Guerra da Ucrânia, eleições e os repiques na taxa de câmbio, além do aperto fiscal para conter a inflação, implicaram em postergação de investimentos e pior desempenho da indústria em relação ao comércio e serviços.
“No caso específico da indústria pneumática nacional, certamente outros fatores tiveram grande impacto no ano passado. O transporte de cargas de uma maneira geral enfrentou problemas com falta de mão de obra e preço do diesel. Fechar os olhos para todos esses fatores é mais um ardil utilizado por uma indústria mal-acostumada com excesso de proteção estatal”, finalizou Alípio.
(Fonte: Abidip/CMM Comunicação, via Press Manager – Foto: Agência Senado)
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