“Reconhecer Jerusalém como capital de Israel é uma violação do direito internacional”, diz embaixador Palestino no Brasil
Para Ibrahim Alzeben, nem o Conselho de Segurança da ONU reconhece soberania israelense sobre o território palestino
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse nesta quinta-feira (29), em Porto Alegre, que reconhecer Jerusalém como capital de Israel é uma violação do direito internacional. “Ninguém, nem o Conselho de Segurança da ONU, reconhece soberania israelense sobre o território palestino, incluindo a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. Fazer isso será uma afronta ao direito internacional e às resoluções da ONU”. O diplomata esteve em Porto Alegre para participar de um debate, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na data consagrada pela Organização das Nações Unidas como o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. O dia 29 de novembro marca os 71 anos da partição da Palestina.
Na última terça-feira (27), o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, reafirmou, em Washington, a intenção do futuro governo de mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Segundo ele, já está decidido que essa mudança ocorrerá e que a questão não é perguntar se vai ocorrer, mas sim quando. “A gente ainda não sabe ao certo dentro do governo a data, como é que ocorre. A gente tem a intenção e a ideia”, disse Eduardo Bolsonaro após reunião com o conselheiro sênior e genro de Donald Trump, Jared Kushner, apontado como um dos principais articuladores da política do governo Trump para o Oriente Médio”.
Caso o governo brasileiro adote essa posição, acrescentou Alzeben, será uma virada de 180 graus na política externa de um país que ganhou o respeito internacional pelo respeito ao direito internacional. “O Brasil, desde a criação das Nações Unidas, sempre observou e respeitou as resoluções das Nações Unidas que buscam promover a paz. Eu ainda tenho esperança de que isso não vai acontecer. Acho que o Brasil merece seguir sendo respeitado observado o direito internacional”.
Caso as ideias de Bolsonaro em relação à questão palestina sejam colocadas em prática, assinalou o embaixador, surgirá, em primeiro lugar, uma disputa entre o Brasil e as resoluções das Nações Unidas. Em segundo lugar, acrescentou, ocorrerá uma disputa com o povo palestino. Ao comentar a intenção de Bolsonaro de mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, Alzeben ironizou: “Eu coincido com o senhor presidente. Uma vez criado o Estado Palestino, eu também vou deslocar a embaixada da Palestina (em Israel) para Jerusalém Ocidental. Vamos manter a nossa embaixada em Israel do lado ocidental e esperamos que Israel se retire e tenha somente sua embaixada em Jerusalém Oriental”.
O embaixador palestino também comentou as declarações de Jair Bolsonaro sobre o que ele considerou “demasiada proximidade” da embaixada palestina do Palácio do Planalto. “A distância entre a embaixada palestina e o Palácio do Planalto é exatamente a mesma distância das embaixadas de Filipinas, de Marrocos, de Moçambique, da Armênia, da Coréia do Sul e das Nações Unidas. Exatamente a mesma. A embaixada palestina está no setor de embaixadas Norte. O governo tem direito a decidir sobre esse tema só que essa decisão (da localização das embaixadas) existe desde que começou a ser desenhado o Plano Piloto de Brasília, nos anos 50”.
No dia 7 de agosto deste ano, durante a campanha eleitoral, o então candidato Jair Bolsonaro disse que, caso fosse eleito, iria retirar a Embaixada da Palestina do Brasil. Para ele, a representação diplomática não pode existir em Brasília porque “a Palestina não é um país”. “A Palestina não sendo país, não teria embaixada aqui. … Não pode fazer puxadinho, se não daqui a pouco vai ter uma representação das Farc aqui também”, disse ainda Bolsonaro.
“Israel quer uma Palestina sem palestinos”
O embaixador disse que a situação atual nos territórios palestinos segue beligerante, sem perspectiva de solução. “A Palestina está sob ocupação militar. O ciclo de violência não acabou desde que Israel ocupou o território palestino. Desde que o Estado de Israel foi fundado, segue esse processo de limpeza étnica, essa terminologia que Israel não gosta de escutar, mas é o que acontece de fato. Israel quer uma Palestina sem palestinos. Esse processo que começou em 1947, 1948 segue até hoje: o objetivo é ter uma Palestina sem palestinos”.
As negociações de paz, disse ainda Alzeben, estão paralisadas. “A intervenção infeliz da administração Trump complicou ainda mais o processo de paz. Enquanto Israel seguir recebendo um apoio incondicional, obviamente seguirá ocupando o território palestino. Nós estamos fazendo um chamado à comunidade internacional e, inclusive, ao próprio governo Trump, para que reavalie essa posição. Como super-potência e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos devem proteger a paz e não promover conflitos, guerras e ocupações militares, contrariando as resoluções da própria ONU e o direito internacional”.
Fonte: CUT-Brasil / Sul 21
Foto Jerusalém: Envato/lic. para Gazeta Trabalhista