O novo ministro da Saúde e os números do Covid-19 no Brasil

A entrevista do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, nesta quarta (22) nos leva à conclusão de que mesmo as autoridades maiores do país estão “no escuro” no que se refere à real dimensão da pandemia no novo coronavírus (Covid-19) no Brasil.

Oficialmente o número de casos confirmados chegou a 45.757, conforme balanço divulgado nesta quarta (22 de abril) pelo Ministério da Saúde. Já as mortes em razão Covid-19 chegaram a 2.906, com um índice 6,4% de letalidade (percentual de mortos sobre o número de contaminados). Esses são os números oficiais, que fazem uma totalização dos números levantados nos estados.

Na entrevista coletiva, demonstrando estar “alinhado” com presidente Jair Bolsonaro, conforme já afirmara na sua posse, o ministro defendeu a tese que a pandemia somente será controlada quando 70% da população tiver contato com o vírus, gerando uma grande massa de pessoas imunizadas.

O ministro reconhece que os números podem estar subdimensionados.  “Hoje temos 43 mil casos [na verdade mais de 45 mil] de coronavírus no Brasil. Se a gente imaginar que podemos ter uma margem de erro grande, digamos de cem vezes em um exemplo hipotético, estamos falando em 4 milhões de pessoas”.  E continua. “O que representa hoje 4 milhões de pessoas num país como esse? É 2% da população. Se existe o conceito de que você tem que ter 70% da população em contato com a doença para que seja imune, e a vacina vai levar um ano, um ano e meio, e se não tem um crescimento explosivo da doença, o que não está acontecendo no Brasil, é impossível um país sobreviver uma ano, um ano e meio parado.”

Essa é a justamente a tese do presidente Jair Bolsonaro. A maioria da população precisa ter contato com o vírus para a pandemia possa ser controlada naturalmente pela imunização dessa maioria. Consequentemente, é preciso por um fim à quarentena para que a maioria tenha contato com o vírus o mais rápido possível, senão a economia não aguenta. E que “morra quem for morrer, fazer o quê. Todo mundo morre um dia”. E como já afirmou o ministro num vídeo que circula nas redes sociais, teremos que escolher quem vai morrer.

A fala do ministro, além de nos mostrar o total alinhamento do novo Ministro da Saúde com a tese de Bolsonaro, nos deixa com a sensação que nem o próprio governo tem uma ideia da real situação, ficando apenas no “hipoteticamente”,  expressão usada por Teich.

Hipoteticamente então façamos uns cálculos grosseiros levando em conta que a suposta necessidade que 70% da população tenha contado com o vírus, conforme afirmam Bolsonaro e Teich. O Brasil tem 206 milhões de habitantes. Se 70% tomarem contato com o vírus isso dá um número de 144 milhões e 200 mil. Se levarmos em conta que o balanço divulgado pelo Ministério da Saúde aponta uma taxa de letalidade de 6,4%, teremos, hipoteticamente, 9 milhões e 228 mil mortos! Isso, óbvio, se hipoteticamente ninguém (inclusive os dos grupos de risco) tomasse qualquer medida de autoproteção, como uso de máscaras, distanciamento e isolamento social (o que não é caso). É claro que isso é apenas um “chute”, um exercício fantasia, mas serve para nos dar uma ideia do quão duro pode ser uma saída precipitada e não organizada da quarentena, ainda que os números fiquem muito, muito abaixo desses.

Portanto, para o nosso bem, torçamos para que o novo ministro esteja realmente “no escuro” quanto aos números reais, assim como nós, e que sua fala nesta quarta tenha sido apenas um “chute”, um exercício de hipóteses. Somente uma testagem universal, ou pelo menos da maioria da população, incluído de todos os falecidos seja por que causa for, poderia nos dar um quadro real.

Enquanto isso por via das dúvidas, é melhor manter as recomendações da Organização Mundial de Saúde, até que os números nos mostrem de maneira mais clara a real situação.

Eber Benjamim – Jornalista – Editor da Gazeta Trabalhista

Foto: Marcello Casal Jr. (Agência Brasil)

 

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