Saúde/Campo Grande: saída do Hospital Universitário da Rede de Emergência, em fevereiro, exige alternativas de atendimento
A necessidade de reestruturação da Rede de Urgência e Emergência em Campo Grande foi debatida em Audiência Pública, na manhã desta segunda-feira (12), na Câmara Municipal. Uma das preocupações é porque a partir do dia 1º de fevereiro de 2023 o Hospital Universitário (HU) da Capital deixará de atender na Rede de Emergência, o que exige alternativas para garantir atendimentos a pacientes. Ampliar as ações preventivas também está entre os focos para evitar sobrecarga nos prontos-socorros.
Hospitais
Representando o HU, a médica Andrea Lindeberg expôs a prioridade do Hospital Universitário no atendimento para que os estudantes possam aprender mais durante a graduação e residência médica. Atualmente, dos 210 leitos disponíveis, 70% são destinados a atendimentos de urgência e 30% para cirurgias eletivas. A ideia é inverter esses indicadores. “A superlotação sempre existiu e pudemos evidenciar que é impossível, na formação dos profissionais, atender paciente numa maca, ajoelhado no chão. Entendemos que é inadmissível. O que precisa é uma reorganização total da rede”, afirmou, garantindo que os pacientes serão recebidos no Pronto Atendimento desde que tenham um leito digno para atendê-los.
O diretor administrativo do HU, Carlos Coimbra, expôs a dificuldade financeira do HU. “Na sexta-feira passada, para empenhar mais materiais de consumo, deixamos de pagar todos os contratos do hospital”, mencionou, salientando que R$ 400 mil que deixaram de ser pagos em recontratualização anterior pela Secretaria Municipal de Saúde precisam ser repassados.
“A gente precisa achar caminhos”, declarou a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora Fortunato, sobre algumas dificuldades enfrentadas no SUS (Sistema Único de Saúde). Ela mencionou, principalmente, a preocupação com a saída do Hospital Universitário da Rede de Urgência e como será absorvido esse serviço, lembrando do papel do Conselho em monitorar como está a assistência.
A entrada do Hospital Adventista do Pênfigo na Rede de Urgência é uma das alternativas analisadas. O diretor administrativo Everton Martin falou desse planejamento, que já vem sendo realizado há dois anos. “Estamos finalizando tratativas. É um hospital de pequeno e médio porte e temos condições de receber uma parte da rede”, disse. O Hospital conta com 85 leitos, sendo 20 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e está com o pronto-socorro desativado.
A presidente eleita da Santa Casa, Alir Terra, salientou que o debate de todos tem o “único objetivo de garantir um processo efetivo e eficaz para continuar salvando vidas”, disse, complementando que a Rede de Urgência precisa ser vista de forma mais harmoniosa entre hospitais e a Secretaria do Município. Ela informou que o hospital faz 3,8 mil atendimentos por mês e declarou a dificuldade em cumprir metas de cirurgias e procedimentos diante de atendimento de urgência sendo realizado acima da capacidade. “Se não conseguirmos atender as cirurgias eletivas por causa da urgência e emergência somos cobrados. Temos que ter equilibro”, disse.
Prevenção – O coordenador de urgência da Sesau, Yama Higa, chamou a atenção para os problemas dos doentes clínicos e crônicos, que representam a maioria dos atendimentos de urgência, em destaque por doenças cardiovasculares. “Hoje esses pacientes com doenças crônicas representam de 75% a 80% dos atendimentos. O trauma fica com o restante”, disse. Ele salientou a necessidade de ampliar parcerias para discutir temas relacionados a esse impacto.
“Quando falamos de urgência, temos a correção de algo que podia não ter acontecido. Temos leis e órgãos para evitar problemas, que não usamos adequadamente”, explicou o vereador Prof. André Luís, mencionando como exemplo legislação que impede a comercialização de lanches considerados não-saudáveis nas cantinas escolares. Ele falou do trabalho com outros órgãos para mitigar essa sobrecarga na rede de urgência.
Gestão – Rosana Leite, secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Saúde. parabenizou a Câmara Municipal por utilizar o instrumento da Audiência Pública nesse debate, “como oportunidade de entrar em contato com todos e debater o tema exaustivamente”. Ela mencionou que a nova gestão da Sesau agirá em consonância com as normas e, se algo não estiver em acordo, será discutido.
O secretário municipal de Saúde, Sandro Benites, que assumiu a pasta na última semana, falou que visitou todas as unidades 24 horas e identificou a necessidade de ampliar a comunicação na gestão. “A Sesau está de portas abertas para todos os hospitais, porque temos um objetivo em comum: a saúde do cidadão campo-grandense”, disse. A educação em saúde e em trânsito também estará no foco para ajudar na prevenção. Mutirões para reduzir a espera por cirurgias ou procedimentos constam no planejamento da Sesau.
A parceria com os 79 municípios foi enfatizada pela diretora de atenção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde, Angélica Cristina. “Estamos a disposição para fazermos um grupo de trabalho e repensarmos os serviços de urgência da Capital”, disse. Ela ressaltou que está sendo montado um Plano Diretor Hospitalar Estadual para aprimorar o atendimento no interior, analisando o perfil de cada região. O Hospital de Três Lagoas terá atendimento de cardiologia, enquanto Dourados atenderá pacientes de ortopedia.
Macas – Outra dificuldade relatada na Audiência foi a retenção de macas do Samu pelos hospitais, em decorrência da falta de leitos para pacientes de casos de urgência. A prática acaba prejudicando o atendimento de ocorrências. “É importante lembrar que só se retém uma maca porque não tem onde pôr o paciente. Todos os dias recebo telefonemas de familiares de pacientes que estão na maca, que sentem que estão abandonados. Maca é algo ruim, mas não tendo leito, não há outro meio a ser feito”, declarou o vereador. Ele enfatizou ainda a importância de resolver o problema no Estado para não sobrecarregar a rede no Município.
Metade dos atendimentos feitos pelos socorristas são relacionados a traumas, conforme o coordenador do Samu, Ricardo Rapassi. “Os pacientes são, na maioria, graves. Além de custo financeiro, há custo social para o sistema, pois muitos não conseguem continuar em seus trabalhos. É preciso tratar a causa com urgência”, disse. Ele lembrou que o número de motos nas ruas tem aumentado e destacou a importância de pensar no paciente na casa, na rua, que terá lesão permanente ou falecer se não for socorrido rápido”, disse. As macas, segundo ele, têm ficado retidas por até 10 horas.
O debate foi proposto pelo vereador Dr. Victor Rocha, vice-presidente da Comissão de Saúde da Casa de Leis, e secretariada pelo vereador Prof. André Luis. Nos encaminhamentos da Audiência, foi salientada a necessidade de incluir outras secretarias e departamentos no debate sobre medidas preventivas, seja para reduzir os acidentes de trânsito ou para evitar que problemas de saúde agravem-se e tornem-se crônicos. Hoje, 50% dos atendimentos no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) são de vítimas de acidentes de trânsito.
“Precisamos ainda ampliar os leitos hospitalares para reduzir o tempo de espera nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento)”, disse o vereador Dr. Victor Rocha. Essa espera tem chegado a até 3 dias, em alguns casos. Há duas sinalizações para que a Santa Casa e o Hospital Adventista do Pênfigo possam atender parte dessa demanda dos hospitais. O vereador enfatizou ainda o momento de preocupação com a rede de urgência, salientando a necessidade de uma rede estruturada entre Município, Estado e União. “Queremos por meio dessa discussão melhorar cada vez mais”, completou. A judicialização de procedimentos médicos foi outro ponto de preocupação debatido.
(Com informações de Milena Crestani/Assessora Câmara – Foto: Assessoria de Comunicação da Ebserh)
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