Trabalho docente: pandemia escancara a importância dos profissionais da educação para a sociedade
O Brasil está completando 14 meses de pandemia do novo coronavírus. Desde março de 2020, a população tem enfrentado os maiores desafios deste século: medo, mortes, dores, sequelas, desemprego, fome, desigualdade, insegurança. Neste cenário, trabalhadores e trabalhadoras convivem com os desafios da mudança abrupta de suas rotinas laborais.
Na educação pública, a importância do trabalho docente nunca foi tão evidenciada, no entanto sua pouca valorização ao longo da história do país não mudou com a mesma intensidade como se transformaram as aulas, planejamentos, avaliações e vidas dos professores e professoras.
Neste mês de maio, em que se recorda memoráveis lutas de trabalhadores em busca de direitos e condições de trabalho; maio em que se celebra a união dos professores de Campo Grande para criar, há 69 anos, sua entidade de classe, que travou a vanguarda das lutas pela educação pública de qualidade e a valorização dos seus profissionais, a ACP destaca as contradições e ataques que o trabalho docente vem sofrendo em tempos de Covid-19.
Em Campo Grande, as aulas remotas têm sido a maneira como professores e professoras estão tentando proporcionar a continuidade no aprendizado dos quase 160 mil alunos nas redes estadual e municipal. Somando toda a comunidade escolar (professores, administrativos e alunos), são quase 200 mil pessoas que deixaram de se expor ao risco de contágio pelo novo coronavírus, na capital.
A pedagoga Adriana Bellei, diretora da Escola Estadual Professora Maria de Lourdes Toledo Areias, relata as diversas escolas que existem na escola pública. “Algo que está nítido é o tamanho das desigualdades sociais e a ampliação dessas mazelas. Na escola, nos temos diversas realidades. Existem as famílias que têm condições de acesso à internet e possibilidade de auxiliar completamente esse estudante nas aulas remotas. Neste grupo, há até reclamações de que as atividades estão sendo poucas. Ao passo que temos alunos que sequer têm o que comer, e nós estamos tentando oferecer o suporte possível para esses alunos. Essa realidade, para além da sobrecarga de trabalho, também desgasta muito toda a equipe pedagógica”, relata a diretora.
Adriana detalha ainda a tensão vivida em meio a sobrecarga de trabalho, dedicação e medo entre os educadores da escola.
“Existe uma necessidade colocada de se manter uma certa normalidade, e isso provoca um fluxo de trabalho gigante. A presença exacerbada do trabalho na vida cotidiana tem provocado muita exaustão. Nós vemos professores se dedicando, com tempo e recursos financeiros empregados ao máximo, fazendo vídeos excelentes para explicação do conteúdo, fazendo chamadas virtuais com os alunos que podem participar, isso é importante, significa que está chegando para os alunos, e a aprendizagem está acontecendo. Não gosto dessa expressão de ‘reinvenção dos professores’. O que percebemos é a dedicação máxima da grande maioria. Professores e professoras guardando sua dor e encarando todas essas situações. Ao mesmo tempo em que tivemos alguns professores que esfregaram sua dor na cara de todo mundo e chegaram a dizer: Não quero, não vou fazer. Não estou bem também! Aí nossa orientação é que peça uma licença médica, se cuide, porque ninguém é mesmo obrigado a aguentar toda essa carga que estamos enfrentando. É muito pesado e alguns colegas não deram conta. E é natural”, desabafa.
Para a professora da Rede Municipal de Ensino, Heide Cristiane Santos Leão, a nova rotina da docência durante a pandemia escancarou o descaso com a educação pública.
“Em um ano em que a pandemia da Covid-19 fez com que o tempo em casa e na escola se transformasse num só, em que as escolas entraram nas casas de alunos, em que as salas de aula invadiram as salas de estar dos professores, vivenciou-se de maneira ainda mais acentuada a falta de comprometimento com a Educação Pública e a desvalorização dos professores. Foram horas e mais horas de planejamento fora do turno de trabalho, tudo para fazer com que mesmo ausentes da rotina escolar, os alunos tivessem o maior aproveitamento possível. A categoria que a sociedade ignora, a classe trabalhadora mais desvalorizada no Brasil, os professores brasileiros, sem auxílio nem incentivos, sem preparação frente à nova realidade, transformaram suas casas em salas de aula, compraram equipamentos, triplicaram os gastos com dados de internet, dividiram o tempo entre as aulas on-line, planejamentos, elaboração de cadernos, atendimento aos grupos salas de aula, dedicaram-se a cursos on-line para dar conta das plataformas, aprenderam a gravar vídeos, editar, postar, reeditar, e assim por diante. Tudo isso sem quase nenhum apoio governamental”, pontua Heide.
Para conhecer ainda mais essa rotina do trabalho docente durante a pandemia, leia o artigo da professora Heide Leão, na revista Expressão. Acesse a revista no site da ACP.
Nestes 14 meses, a população compreendeu, de maneira dolorosa, a importância e o valor do trabalho de professores e professoras para o desenvolvimento da nossa sociedade. Infelizmente, essa importância não se reflete nas ações governamentais. O descaso do governo federal, sua recusa pública em comprar vacinas, o incentivo ao desrespeito de todas as ações cientificamente eficazes para controlar o vírus e a omissão em tomar medidas básicas para garantir ao país suprimentos essenciais como medicação e oxigênio são os problemas evidentes do governo, que afetaram diretamente a vida de todos os brasileiros e brasileiras. Essas mesmas omissões afetam diretamente também a educação, prolongando o tempo da crise e, por sua vez, de educação remota.
Somam-se a isso, a perseguição aos serviços e servidores públicos e o total abandono das políticas públicas em educação, os impactos são avassaladores no trabalho de professores e professoras Brasil a fora.
O presidente da ACP, professor Lucílio Nobre, resume a luta dos profissionais da educação em tempos de pandemia. “Enfrentando todas essas dificuldades e colocando seu melhor trabalho para a educação de crianças, jovens e adultos, os professores e professoras precisam de reconhecimento, política pública e valorização salarial. Não há trabalho docente sem financiamento e nossa luta seguirá sempre em defesa dos educadores e educadores, por uma educação pública, gratuita, laica, inclusiva e democrática”, conclui Nobre.
(Fonte: ACP/Campo Grande)
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