Veja os principais pontos da fala de Bolsonaro em resposta a Sergio Moro
Bolsonaro diz que Moro negociou nomeação para STF, não quis investigar a fundo quem foi o mandante da facada e é “desarmamentista”
Bolsonaro iniciou sua fala dizendo que sabia que não seria fácil. “Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela.” Em seguida contou que, pela manhã, disse a parlamentares que “hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo própria, com o seu ego, e não com o Brasil” e que “hoje essa pessoa vai procurar uma forma de colocar uma cunha entre eu e o povo brasileiro”.
Segundo Bolsonaro, seu primeiro contato pessoal com Sérgio Moro foi no dia 30 de março de 2017, no aeroporto de Brasília, quando encontrou o ex-ministro numa lanchonete e foi cumprimentá-lo, mas ele praticamente o ignorou. Bolsonaro disse que ficou triste, pois Moro era um “ídolo” para ele.
Ainda no histórico sobre seu contato com Sérgio Moro, Bolsonaro diz que após a facada, quando estava no hospital, uma pessoa tentou intermediar uma visita de Moro, mas que declinou. “Ele não esteve comigo durante a campanha. Eu não sei em quem ele votou no primeiro turno e nem quero saber. O voto é sagrado e secreto.” Segundo Bolsonaro, ele declinou o convite, pois o fato se tornaria público “e eu não queria usar o prestígio dele para conseguir a vitória no segundo turno.”
Bolsonaro e Moro teriam se encontrado pela primeira vez, após as eleições, para tratar da nomeação como ministro da Justiça, com a presença de Paulo Guedes, já indicado para ministro da Economia. Segundo Bolsonaro foi tratado sobre a questão da autonomia à frente do ministério e que, como fez com todos os ministros, o presidente deixou claro que “autonomia não é sinal de soberania. A todos os ministros, e a ele também, falei do meu poder de veto. Os cargos chaves teriam que passar pelas minhas mãos e eu daria o sinal verde ou não.” Segundo Bolsonaro ele deu aval para 90% dessas indicações, inclusive do ex-diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
República de Curitiba
Segundo Bolsonaro, Moro levou sua equipe para Brasília e ficou surpreendido que a maioria eram de Curitiba, sendo que tanto os diretores-gerais da Polícia Federal como da Polícia Rodoviária Federal, como os cargos chaves, eram de Curitiba. “Lógico, me surpreendeu. Será que os melhores quadros da PF estavam todos em Curitiba?”
Segundo Bolsonaro, desde o início ele começou a ser acusado de estar barrando investigações de corrupção e de estar contra a Lava Jato, sendo que “eu estou lutando contra um sistema, contra o establishment”. Segundo ele coisas que aconteciam antes no Brasil praticamente não acontecem mais (se referindo à corrupção). “E me desculpem a modéstia, em grande parte pela minha coragem de indicar um time de ministros comprometido com o futuro do Brasil.”
Poder de demitir
“Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Oras bolas, se eu posso trocar um ministro, porque não posso de acordo com a lei trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização pra ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder executivo.”
PF de Sérgio Moro se preocupou mais em tentar esclarecer o caso Marielle que a tentativa de seu assassinato
Uma das acusações pesadas de Bolsonaro contra Sergio Moro foi de que a Polícia Federal sob seu comando se preocupou mais em solucionar o caso do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, do que em esclarecer a tentativa de seu assassinato. “Será que é interferir na Polícia Federal quase que exigir, implorar a Sergio Moro, que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito dele isso daí. Não interferi.”
Embora a investigação sobre a tentativa de seu assassinato tenha sido encerrada e não tenha sido apurado o envolvimento de ninguém além do próprio executor, Bolsonaro deixa no ar que tanto a PF quanto Segio Moro fizeram “corpo mole” nessa investigação. É uma acusação grave contra o ex-ministro e a própria instituição Polícia Federal. Deixa no ar também que o caso não foi investigando a fundo e que poderia ser “solucionado” mais facilmente que o de Marielle, dando a entender que não o foi propositadamente. No entanto o caso foi dado como encerrado tanto pela PF, pelo Ministério Público e a defesa de Bolsonaro não recorreu para dar continuidade.
Coração
Sobre a demissão de Valeixo, Bolsonaro insiste que o diretor já tinha intenção de sair desde janeiro, porque estava cansado, e que se reuniu com Moro ontem, 23, para tratar do assunto. “No dia de ontem eu conversei com o senhor Sergio Moro. Só eu e ele, como na maioria das vezes de nossas conversas. Onde nós… eu sempre abri o coração pra ele, eu já duvido se ele sempre abriu o coração para mim.”
Segundo Bolsonaro ele disse a Moro que “tá na hora de por um ponto final nisso” e comunicou que sairia no dia seguinte no Diário Oficial da União a exoneração de Valeixo. Ao que Moro teria respondido que o próximo diretor teria ser indicado por ele. Bolsonaro teria então lembrado Moro sobre a Lei que diz que a indicação é prerrogativa do presidente da República. Segundo Bolsonaro ele precisa um diretor da Polícia Federal com qual “possa interagir”.
Moro negociou indicação para o STF
“E mais, já que ele falou algumas particularidades. Mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse pra mim: você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me descupe, mas, não é por aí. Reconheço as suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho”, afirmou Bolsonaro.
Clima
Bolsonaro negou que tenha alguma vez pedido para blindar sua família e disse que cobrou em reunião de ministros para que Moro interferisse no que considera abuso de autoridade de prefeitos e governadores na questão de medidas para manter a quarentena, o que teria gerado um “clima”. Segundo Bolsonaro a resposta de Moro foi o silêncio. “Boas matérias ele aparece, más ele se omite.”
Moro desarmamentista
“É um ministro lamentavelmente desarmamentista. Dificuldades enormes com decretos para facilitar para os CAC´s, ou para aqueles que têm uma arma, a compra de um armamento ou de munição. Aquilo que eu defendi na campanha ou pré-campanha os ministros tem obrigação de estar junto comigo, caso contrário não estão no governo certo”, sinalizando que os ministros devem também defender suas propostas de facilitação do acesso às armas e munições.
Sem mágoas
Voltando à conversa pela manhã com os deputados, Bolsonaro relatou que teria dito a eles que “hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no poder Judiciário, nem está no parlamento brasileiro. Não lhes disse o nome. Falei: vocês vão conhecê-lo às 11 da manhã.” “Eu sempre fui do diálogo”, afirmou Bolsonaro, lamentando que Sergio Moro tenha convocado uma coletiva para fazer acusações infundadas.
Ao final da coletiva, Jair Bolsonaro leu três páginas, onde afirma que ficou decepcionado e surpreso com a atitude de Moro. Disse não ser verdadeiras as insinuações de que queria obter informações privilegiadas sobre investigações em curso pela Polícia Federal e nem procurou Moro para interferir. E que conversou com Valeixo na noite de ontem sobre a demissão, após conversa com o ministro da Justiça pela manhã. “Desculpe senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave para um homem como eu, militar, cristão e presidente da República, que ser acusado disso.”
Bolsonaro insinuou ainda que Moro pediu demissão pensando em candidatura. “O governo não pode perder autoridade por questões pessoais de alguém que se antecipa a projetos outros. Travo o bom combate. A minha preocupação é entregar o Brasil, para quem vier me suceder no futuro, bem melhor do que recebi em janeiro do ano passado.”
Veja o Vídeo completo da fala no link:
https://www.youtube.com/watch?v=r50zxW-D7M0
Foto: Agência Brasil
Bem explicado.