Votação de insalubridade para servidores de Campo Grande gera crise no PT; deputado Pedro Kemp pede exclusão do vereador Ayrton Araújo da chapa do partido por votar a favor do veto do prefeito Marquinhos Trad

Votação de insalubridade para servidores de Campo Grande gera crise no PT; deputado Pedro Kemp pede exclusão do vereador Ayrton Araújo da chapa do partido por votar a favor do veto do prefeito Marquinhos Trad

Os vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande mantiveram, na sessão realizada na terça-feira (18), o veto total do prefeito Marquinhos Trad ao Projeto de Lei 9.804/20, dos vereadores Dr. Cury, Enfermeira Cida Amaral e Dr. Lívio, que previa o pagamento, para os trabalhadores quem atuam na linha de frente no combate a Covid-19, de insalubridade no grau máximo, enquanto perdurar o período de emergência da saúde pública, de 40% calculado sobre o valor do salário do trabalhador.

Entre os vereadores que votaram a favor do veto do prefeito está o único representante do Partido dos Trabalhadores (PT) na câmara de Campo Grande, Ayrton Araújo.

Reação interna

O voto do vereador, alinhado com a bancada do prefeito Marquinhos Trad e contra orientação do PT a favor do projeto, causou reação nas bases do partido e gerou uma crise interna no PT de Campo Grande.

A advogada Janice Andrade, pré-candidata a vereadora pelo partido, chegou a anunciar sua renúncia à candidatura e desfiliação do partido por conta do episódio, argumentando que o vereador Ayrton votou a favor do aumento do próprio salário [dos vereadores] mas contra a insalubridade para os servidores que estão na linha frente contra o coronavírus. “É imoral aumentar o próprio salário na pandemia e votar contra o projeto de insalubridade dos servidores da saúde.”

Outra pré-candidata a vereadora pela chapa do PT, arquiteta Juliana Sartomen, também se manifestou, refletindo o impacto do posicionamento de Ayrton no partido. “O vereador que venceu as eleições de 2016 pelo nosso partido votou contra os trabalhadores, ou seja, justamente contra a nossa sigla. O vereador disse que a carta de Pedro era um desrespeito e quis lhe dar `dicas` de política, como se Pedro fosse um novato apaixonado. Utilizou-se de uma justificativa torpe alegando que o projeto de lei era ilegal, sem antes discutir com o partido. A verdade é que Ayrton pensou que a militância não estava de olho e que estava passando despercebido na câmara. Para quem é de fora, é sempre uma surpresa descobrir que ele é vereador do PT, porque afinal, ele sempre vota alinhado com as pautas do DEM, PSDB e Marquinhos. A invisibilidade de Ayrton não mora em uma discrição ou pouca atividade, mas sim, na sua falta de compromisso e alinhamento com o partido. Para além de sua justificativa tosca, ele conclui em sua carta que seu voto (decisivo em relação a derrota dos trabalhadores ontem): `por mais que não tenha agradado os colegas, é legitimado pela população para tal`, ou seja age como quer.”

Ayrton Araújo argumenta que o projeto é “inconstitucional” e por isso foi vetado pelo prefeito, embora tenha num primeiro momento votado a favor. Taxa também de “oportunismo” a atitude dos defensores do projeto.

Ouvido pela Gazeta Trabalhista, o presidente do diretório municipal do PT diz que o partido tomará posição e já tem reunião marcada para esta quinta (20) para tratar do comportamento do vereador. “Infelizmente o vereador Ayrton não acompanhou a orientação do partido e votou pela conservação do veto”. Segundo Agamenon, o vereador chegou a votar a favor do projeto na primeira votação do texto, seguindo a orientação dada pelo PT, mas mudou de posição no retorno do projeto à Câmara com o veto total do prefeito Marquinhos Trad que alega ser inconstitucional.

Agamenon diz que o já existem vários pedidos de sanção contra o vereador, como afastamento por seis meses, exclusão da chapa e até expulsão. Segundo Agamenon o estatuto do partido garante o direito de defesa, Ayrton será ouvido pela executiva nesta quinta e o caso será encaminhado para a Comissão de Ética para análise. Só depois do relatório da comissão de ética é que a questão será decidida.

Com a crise desencadeada publicamente, o pré-candidato a prefeito pelo PT, deputado Pedro Kemp, divulgou nota condenando a atitude do vereador e cobrando um posicionamento da direção do partido. Para Kemp, Ayrton deve ser afastado da chapa de vereadores do PT por não respeitar as decisões da agremiação. Na nota, o deputado afirma que solicitará ao diretório municipal do PT de Campo Grande a abertura de processo ético-disciplinar contra o vereador Ayrton Araújo e sua exclusão da nossa chapa de pré-candidatos a vereadores, por ter votado a favor da manutenção do veto do prefeito ao projeto de lei que previa o pagamento de adicional de insalubridade em grau máximo aos servidores da saúde que atuam no enfrentamento à Covid-19 na capital. Não é a primeira vez que o vereador vota com o prefeito e em desconformidade com a política defendida pelo partido. A votação de hoje, para mim, foi a gota d’água. É muito grave um vereador do PT votar contra os interesses dos trabalhadores, ainda mais daqueles que estão arriscando ou perdendo a própria vida nesta pandemia para atender a população. Seu comportamento vai contra os estatutos do partido. O PT surgiu no cenário político a partir da luta organizada dos trabalhadores, para ser instrumento de defesa dos interesses da classe trabalhadora.”

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