Demora na aplicação da vacina deixa idosos expostos à covid em Campo Grande

Demora na aplicação da vacina deixa idosos expostos à covid em Campo Grande

A Prefeitura de Campo Grande (MS) estabeleceu um cronograma para a vacinação de idosos acima de 80 anos contra a Covid-19, que teve início ontem, 1 de fevereiro (com pessoas a partir de 99 anos), e deve se estender até o dia 27 (para pessoas com 80 anos). A prefeitura argumenta que esse plano visa evitar aglomerações.

O anúncio do plano trouxe alguns questionamentos sobre o porque de um calendário tão longo para um público tão pequeno. E ainda mais levando-se em conta que as vacinas disponíveis atingem apenas 20% desse público.

Com o avanço da pandemia e o surgimento de um novo tipo que está se espalhando para o restante do país, a rápida vacinação dos idoso é uma necessidade urgente. Questiona-se se a prefeitura de Campo Grande não tem estrutura nem pessoal para fazer essa aplicação em tempo mais rápido.

A Gazeta Trabalhista ouviu alguns profissionais da área a respeito.

Para o médico Ronaldo Costa, o calendário da prefeitura dá até a impressão de que é para “paralisar a vacinação”.

Ele questiona: “quantas pessoas com 100 anos você conhece? E com 99? E com 98? Então, enquanto prevalecer esse calendário só de idade elevada, durante esses dias todos, praticamente a vacinação vai ficar paralisada. E se estiver usando a vacina da Astrazeneca, onde o frasco tem dez doses, nós vamos perder doses de vacina, porque vai vacinar uma pessoa, e vão sobrar nove doses.  Então, se fosse para fazer a vacinação corretamente, teria que fazer da seguinte forma, por exemplo, vacinar o paciente de 100 anos com o de 80, o de 99 com o de 81, de forma que toda a população mais idosa seria vacinada num período mais curto de tempo. Agora, até chegar dos 100 até 80 anos, são no mínimo 20 dias. E aí, nós estamos com a nova cepa variante do vírus circulando e chegando à população idosa sem vacinação.”

Já para o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Ricardo Bueno, funcionário da saúde estadual, “a demora prejudica muito, mas ela teve início quando o governo federal – negando a pandemia – não se preocupou em acertar com os grandes laboratórios mundiais a compra da vacina, fazendo parte do grupo da OMS (Organização Mundial de Saúde) na luta pela vacina. Então fica realmente difícil para as prefeituras e os estados, porque você não tem como comprar a vacina. Hoje a vacina não está sendo vendida para os municípios, ela vem através do governo federal. Então não se conseguiu fazer isso ainda. Se avançar nisso, pode ser que a prefeitura e os estados possam fazer alguma coisa. Do contrário, está todo mundo de mãos atadas e no ritmo que a gente está de vacinação vamos demorar mais de ano para vacinar toda a população brasileira.”

A otimização da estrutura e funcionários existentes na área da saúde permitiriam acelerar a vacinação. Essa é a opinião da profissional da área da Enfermagem, Cleodete Gomes, que faz parte da diretoria do SISTA (Sindicato dos Funcionários Técnicos e Administrativos da Universidade Federal de MS). “Temos condições de vacinar bem mais por dia. E junto com as entidades do Fórum Vacina Para Todos, vamos questionar esse calendário junto à prefeitura. Acredito que a preocupação é para não aglomerar, mas vamos pensar em sugestões e propor. Podíamos, por exemplo, ter equipes fixas de vacinação e equipeis móveis. As móveis vacinando os idosos nos carros e domicílios. Temos a possibilidade de utilizarmos estrutura tipo drive thrue. Estrutura temos. Temos como manter as vacinas numa temperatura de 2 a 8 graus, temos caixas térmicas e termômetros para controle e sempre fizemos campanhas em supermercados, shoppings.”

Para uma funcionária da saúde municipal, que prefere não se identificar, o argumento da aglomeração não tem muito sentido, “até porque são poucas vacinas e aplicação pode ser pulverizada por diversos lugares”. Ela alerta para a possibilidade de desvio das doses do grupo prioritário ao qual se destina. “Caso o frasco seja de dez doses, e na hipótese de aparecer um número menor, para não se perder as restantes elas devem ser aplicadas logo, pois tem prazo de validade de algumas horas. É aí que pode-se ‘justificar´ a aplicação em pessoas fora do grupo, entendeu? Por outro lado muitos funcionários ficam com medo de fazer qualquer denúncia, pois são terceirizados, contratados temporários, e podem ser demitidos.”

Cronograma de vacinação de idosos em Campo Grande (MS)

 

Nota da Secretariam Municipal de Saúde de Campo Grande

Após a publicação desta matéria, a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande enviou à Gazeta Trabalhista uma nota de esclarecimento:

“A medida de realizar uma subdivisão por idade dos idosos a serem vacinados conforme os dias da semana visa evitar aglomeração nas unidades considerando que temos mais de 18 mil pessoas acima de 80 anos e uma quantidade limitada de doses o que, consequentemente, levaria a uma busca desenfreada aos pontos de imunização e assim evita justamente o risco exposto na matéria de contaminação pelo novo coronavírus, uma vez que a quantidade de pessoas dentro das unidades de saúde é reduzido.

As doses aplicadas são da Coronovac monodose, não há risco de perdas, em cada frasco de vacina há apenas aquela dose que deverá ser aplicada, portanto, mesmo que apenas uma pessoa compareça à unidade de saúde para vacinação, não haverá prejuízo algum.

O primeiro dia teve um movimento considerável nos locais de vacinação sem nenhuma alteração, o que não seria possível assegurar caso a vacinação fosse liberada para todo o público. A medida em que novas doses forem recebidas, o calendário poderá ser alterado abrangendo outras faixa-etárias em um espaço menor de tempo.”

 

Eber Benjamim – Gazeta Trabalhista – Foto: Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil

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