Deu Saudades? Psicóloga da UEMS fala sobre como conviver com esse sentimento durante isolamento social

Deu Saudades? Psicóloga da UEMS fala sobre como conviver com esse sentimento durante isolamento social

A saudade tem feito parte dos dias da maioria das pessoas que está praticando o distanciamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como maneira de achatar a curva e diminuir o contágio pelo coronavírus (COVID-19).

Mas afinal o que é saudade? Essa palavra brasileira tem origem no latim com o significado de solidão, no dicionário a definição encontrada é sentir falta de algo ou de alguém. Esse substantivo feminino, no plural ou no singular, parece ser um dos mais usados nesses últimos meses, de definições históricas à língua portuguesa até chegar aos memes virais nas redes sociais.

A frase: “Saudades, né, minha filha? ”, é um meme que tem sido muito usado para representar esse sentimento que acompanha o distanciamento social e todas as suas consequências. A origem do meme é uma frase dita por Dráuzio Varella, médico, em uma de suas reportagens sobre a vida dentro de penitenciárias do Brasil. Em uma das matérias exibidas no programa Fantástico, Dráuzio entrevistava uma detenta que contou que se sentia muito sozinha, ao consolá-la o médico disse: “Solidão, né, minha filha? ”. A reportagem teve muita repercussão positiva e negativa, a frase viralizou se tornando meme e criando variações até chegar a mais utilizada nesse período: “Saudades, né, minha filha? ”.

Mas até que ponto sentir saudades é bom? A saudade pode vir acompanhada de choro e tristeza? Quem nos ajudou a responder essas dúvidas foi a psicóloga da UEMS, Natali Portela, que integra a equipe do Serviço de Atendimento Psicológico da UEMS. Confira a entrevista:

Existe diferença entre saudades e sintomas de depressão?

Natali Portela: Saudade tem relação com algo bom. Com pessoas, animais, coisas ou experiências que gostamos, que nos fazem bem ou nos dão prazer, e que agora estão ausentes. A saudade pode se manifestar com tristeza e produzir um sofrimento em demasia, e a partir disso talvez desencadear um episódio de depressão, que é algo que a imensa maioria das pessoas já vai passar mesmo em algum momento da vida, por esse ou outro motivo, sem necessariamente se configurar uma “doença”. Contudo, a permanência e sustentação desse quadro de forma duradoura a ponto de considerarmos um diagnóstico de depressão em um sentido patológico, depende de outras características individuais que podem ou não estar presentes. Então, se você está com saudade de alguma coisa, quer dizer que você tem algo bom para se lembrar, o que considero positivo. Mas é preciso tomar cuidado com o a interpretação e a vivência possivelmente negativas que podemos fazemos desse sentimento.

Com quais sintomas devemos nos preocupar em procurar um médico, por exemplo?

NP: É importante esclarecer que tratamentos psiquiátricos, em sua grande maioria, são baseados em remédios que buscam regular substâncias como serotonina e dopamina no cérebro. Isso parte de um entendimento de que algumas emoções desconfortáveis podem ser “resolvidas” quimicamente. É razoável considerar que o ambiente social como está posto atualmente, com planos adiados, o cotidiano sendo esvaziado, uma nova rotina a ser reinventada, a vida totalmente transformada de uma hora para outra com uma série de limitações e imprevisibilidades, enfim, parece-me importante cogitar que um eventual desequilíbrio psicológico encontra sua razão de existir muito mais externamente do que internamente. Logo, temos que nos perguntar se a solução disso tudo está mesmo na ingestão de substâncias que atuarão no nosso sistema nervoso central. Os medicamentos psiquiátricos são ferramentas importantíssimas, mas agem muito mais nos sintomas do que na origem dos mesmos, e há uma série de complicações com esses fármacos que fazem a relação custo x benefício muitas vezes desfavorável. Em alguns casos a medicação é necessária, mas esta avaliação sobre a conveniência de uma consulta médica deve ser feita individualmente, junto à uma das psicólogas do SAP.

Quais dicas poderia nos passar de como lidar com essas emoções durante este período de isolamento social?

NP: Saúde mental começa garantindo o básico, que é dormir bem e comer bem. Pode parecer banal, mas infelizmente grande parte dos universitários não dá a devida importância para essas duas coisas simples. Sem uma rotina de sono apropriada e uma alimentação balanceada, outros planos correm risco de serem frustrados. Estudar e perceber que está de fato aprendendo traz uma sensação de bem-estar que afasta aquele possível sentimento de “vazio” angustiante. Porém, sem dormir e comer adequadamente, dificilmente isso irá acontecer. Já a atividade física, que também depende de dormir e comer bem, faz aquilo que o medicamento psiquiátrico se propõe, regular níveis de serotonina e dopamina no cérebro, só que de uma forma muito mais natural, saudável e barata. Também é interessante ler um livro que não seja ligado ao curso. Talvez aprender uma coisa nova como cozinhar, costurar, ou tocar algum instrumento. Marcar uma videoconferência com os colegas da faculdade e colocar o papo em dia pode dar um ânimo. Mas o mais fundamental agora é baixar os níveis de autoexigência, dedicar tempo às coisas prazerosas e manter contato diário com pessoas que você gosta. E, caso você esteja tentando alguma dessas estratégias e falhando, não precisa se desesperar, todo mundo vai falhar em algum momento. Procure o SAP que a gente busca junto uma maneira para você passar por essa pandemia mais tranquilamente.

(Fonte: Assessoria UEMS)

 

 

 

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